Viu Porque Procurou

24.07.2012

Dia 22 de Julho foi a memória litúrgica de Maria Madalena. Este ano a festa coincidiu com o domingo e, portanto, acabou por não ser celebrada. Quem se lembrou? Quem não se esqueceu da discípula que não queria esquecer Jesus?

O texto que a Liturgia das Horas propõe para a celebração é profundamente tocante, desenvolvendo a ideia de que ela viu Cristo numa nova vida, ressuscitado, por não ter desistido. Viu porque procurou, porque não abandonou o seu amor por ele. É um excerto de uma homilia do Papa Gregório Magno datada do séc. VI:

Maria Madalena, quando chegou ao sepulcro e não encontrou lá o corpo do Senhor, julgou que alguém O tinha levado e foi avisar os discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que essa mulher lhes dissera. Destes está escrito logo a seguir: E regressaram os discípulos para sua casa. E depois acrescenta-se: Maria, porém, estava cá fora, junto do sepulcro, a chorar.

Estes factos levam-nos a considerar a grandeza do amor que inflamava a alma desta mulher, que não se afastava do sepulcro do Senhor, mesmo depois de se terem afastado os discípulos. Procurava a quem não encontrava, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do amor, sentia a ardente saudade d’Aquele que pensava ter-lhe sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela ficou a procurá-l’O. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até ao fim será salvo.

Começou a buscar e não encontrou; continuou a procurar e finalmente encontrou. Os desejos foram aumentando com a espera e fizeram que chegasse a encontrar. Porque os desejos santos crescem com a demora; mas os que esfriam com a dilação não são desejos autênticos. Todas as pessoas que chegaram à verdade, conseguiram-no porque lhe dedicaram um amor ardente. Por isso afirmou David: A minha alma tem sede do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? Por isso também diz a Igreja no Cântico dos Cânticos: Estou ferida pelo amor. E ainda: A minha alma desfalece.

Mulher, porque choras? Quem procuras? É interrogada sobre a causa da sua dor, para que aumente o seu desejo e, ao mencionar ela o nome de quem procurava, mais se inflame no amor que Lhe tem.

Disse-lhe Jesus: Maria! Depois de a ter tratado pelo nome comum de “mulher”, sem que ela O tenha reconhecido, chamou-a pelo nome próprio. Foi como se lhe dissesse abertamente: “Reconhece Aquele que te conhece a ti. Não é de modo genérico que te conheço, mas pessoalmente”. Por isso Maria, ao ser chamada pelo seu nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente lhe chama “Rabbúni”, isto é, “Mestre”. Era Ele a quem procurava externamente e era Ele quem a ensinava interiormente a procurá-l’O.