Bento Domingues, OP, “A Ressurreição Continua”

08.04.2013

Goste-se ou não, as celebrações da Páscoa obrigam os cristãos a confrontarem-se com um fenómeno insólito, que sempre procuraram disfarçar. As narrativas da Ressurreição foram todas escritas por homens, atribuídas a Mateus, Marcos, Lucas e João. Era de supor que o maior destaque fosse dado aos apóstolos, mas não é. São as mulheres que recebem o encargo de os evangelizar, de lhes anunciar o que há de mais importante no Evangelho, a ressurreição.

Este é o facto. Não basta dizer que Cristo assim quis e pronto. Seria o elogio da arbitrariedade. Ele devia ter as suas razões para agir deste modo. Quais poderiam ser?

Foi Jesus que escolheu e chamou os seus discípulos. Acabou por descobrir que eles não O entendiam, nem estavam interessados no seu projecto. No Evangelho de S. Marcos, a grande discussão que os animava, no âmbito da tomada do poder, centrava-se na distribuição de lugares. (Mc 4,34). Dois deles encheram-se de coragem e colocaram ao Mestre as suas exigências: quando triunfares, como rei messiânico, nós queremos os dois primeiros lugares. Esta pressa produziu uma grande indignação nos outros. Depois de uma reunião, receberam todos a mesma resposta: aquele que quiser ser o primeiro, de entre vós, seja o servo de todos (Mc 10,35-45).

Alimentaram sempre a esperança de que Jesus acabaria por perceber que esse rumo só o podia levar ao desastre. Pedro tentou, até à última, mostrar-lhe que tinha mesmo de mudar. Os apóstolos, quando viram o Mestre derrotado na cruz, aperceberam-se de que tinham andado enganados. Acabara-se o tempo das ilusões e cada um voltou à sua vida. Já tinham perdido muito tempo.