Bento Domingues, OP, “O Segredo da Alegria de João XXIII (1)”

29.05.2013

Creio que Jesus não veio resolver os problemas das áreas da competência humana, nem substituir a nossa responsabilidade histórica. Interessa-Lhe apenas fazer de nós criaturas novas, mediante a graça da conversão permanente. Compete-nos resolver os nossos problemas, por nossa conta e risco, através das ciências, das técnicas, das artes e das sabedorias que formos inventando ou descobrindo.

É certo que não deixou nada escrito, não encarregou ninguém de escrever e os textos cristãos não impõem uma interpretação única. Remetem para a participação na realidade viva de Cristo.

Os cristãos e as suas comunidades, como todos os grupos humanos, nascem e desenvolvem-se numa história marcada por tradições, mas sem estarem condenados a repeti-las. O Espírito de Pentecostes, que celebrámos no Domingo passado, é fonte de inovação segundo a pluralidade de carismas pessoais e de grupo.

Vivemos

27.05.2013

Vivemos demonicamente toda a nossa inocência.

HERBERTO HELDER, “Servidões”

Lutar com os Nossos Irmãos pela Sua Dignidade

25.05.2013

Hoje de manhã, numa reunião da Liga Operária Católica em Coimbra dissemos que "iremos lutar com os nossos irmãos pela dignidade que se lhes retira". Assim continuará a ser.

Foi a Verdade

22.05.2013

Quando a razão natural, o testemunho da Lei e dos profetas, o ensinamento dos Apóstolos e dos seus sucessores, conduziram um homem, como que pela mão, até ao acto de fé, pode esse homem dizer, então, que não foi nenhum dos motivos precedentes, que não foi a razão natural, que não foi o ensinamento dos homens que o fizeram crer, mas somente a Verdade primeira por si mesma.

S. TOMÁS DE AQUINO, Comentário sobre São João

Bento Domingues, OP, “Celebrar a Subversão”

20.05.2013

O ritualismo, no espaço cristão, esquece a prática histórica de Jesus Cristo. Segundo as narrativas do Novo Testamento, Ele, como bom judeu, frequentava, ao Sábado, a Sinagoga. Aproveitava sempre esses momentos especiais para subverter a desumanidade em que tinham caído as instituições e os tabus do sagrado, do inviolável. Para os adeptos da estrita observância, essas atitudes eram provocações tão graves que evidenciavam que Ele não podia ser um homem de Deus. Os prodígios que realizava manifestavam, claramente, que era um diabo disfarçado ao serviço de Beelzebu, o príncipe dos demónios.

Para o Nazareno, o dia consagrado a Deus deve ser o que celebra o acontecer actual da libertação e que fora transformado numa nova prisão. A tentação católica é sempre a de esquecer que o Domingo é para celebrar, de forma eficaz, a subversão de tudo o que mata a vida e a alegria. Liberta, em nós, o Espírito da ressurreição, fonte de insurreição.

Pentecostes

19.05.2013

Ó fogo reconfortante do Espírito,
Vida, dentro da própria Vida de toda a Criação.
Santo és tu em dar vida a Tudo.

S. HILDEGARDA DE BINGEN, OSB, “Ignis Spiritus Paracliti”

TEAR: Solidariedade (Tiago Mota Saraiva e José António Bandeirinha)

16.05.2013

Bento Domingues, OP, “Ainda Há Muito a Fazer”

13.05.2013

Poderíamos, desta maneira, ser pioneiros na resolução de problemas postos a nível mundial. Se os sete mil milhões de seres humanos na terra tivessem o nível de vida dos EUA seriam necessários, pelo menos, mais seis planetas, para satisfazer as suas necessidades. No período em que a população cresceu 100%, a área cultivável só aumentou 10%. Assim não dá.

A solução do referido pragmático não é um atentado à vida humana pois, agora por agora, a morte é certa. O método proposto apressa o céu aos crentes. Os não crentes na vida depois da morte são poupados às doenças, aos hospitais e aos lares que tornam a vida um inferno laico. Os que acreditam na reencarnação só começam mais depressa a nova experiência de vida. Quem insiste em convicções humanistas e religiosas, sobretudo as que destacam o valor absoluto da pessoa humana, criada à imagem de Deus, não se podem queixar, pois a divindade só pode ver com bons olhos uma solução que evita sofrimentos desnecessários.

Esta pragmática tão despachada é uma divindade despótica, própria de uma era que não acredita em milagres de bondade e solidariedade mas, sobretudo, por já ter o futuro todo previsto e desenhado. Depois de ter transformado o ser humano numa coisa, sem sentimentos, sem liberdade e sem interrogações, é fácil determinar o que convém e não convém a essa estranha criatura.

Bento Domingues, OP, “A Ditadura do Medo”

06.05.2013

O medo, fruto da apreensão de um mal como ameaça eminente e à qual não se vê como resistir, pode ter várias causas e muitos rostos. Enquanto tal, é paralisante. O próprio Jesus, ao sentir-se ameaçado de morte pelo Sinédrio, deixou de andar em público entre os judeus (Jo 11,54).

Só quando venceu o medo dentro dele próprio, enfrentou o perigo, embora, em plena oração no Jardim das Oliveiras, tenha sido assaltado por extrema angústia. As mulheres foram as únicas que, depois do desastre, venceram o medo. Os discípulos viveram trancados, enquanto o Espírito Santo não os modificou até à raiz e abriu o seu judaísmo ao mundo pagão, ao mundo dos gentios. Isto não aconteceu sem um grande debate no Concílio de Jerusalém. É o tema da Missa de hoje.

Os Evangelhos, ao colocarem na boca de Jesus um repetido “não temais”, dizem que não era a audácia que os animava.

O medo paralisa, o amor é criativo.