A Vida Consumida

14.10.2018

“Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho”,[1] disse. Óscar Romero foi hoje canonizado pelo Papa Francisco. O bispo salvadorenho “deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria incolumidade, para consumir a vida — como pede o Evangelho — junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”,[2] ouviu-se em Roma. Foi morto a tiro por um dos esquadrões de morte de extrema-direita ao serviço dos latifundiários e grandes capitalistas de El Salvador quando celebrava Missa numa pequena capela em 1980. Romero permanece um exemplo radical de empenho pela justiça social que demonstra a diferença entre um simples revolucionário e um cristão revolucionário. O primeiro pode estar disposto a tirar a vida de alguém para transformar o mundo. O segundo só pode estar disposto a dar a própria vida para o mesmo fim. Assim foi Romero, aquele que proclamou no ano anterior ao seu assassinato: “Um cristão que se solidariza com a parte opressora não é um verdadeiro cristão.”[3] Crucificaram-no como a Jesus.

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[1] Óscar Romero, entrevista telefónica de José Calderón Salazar. Ver James R. Brockman, Romero: A Life (Maryknoll, NY: Orbis Books, 2005), 247-248.

[2] Papa Francisco, homilia “Santa Missa e Canonização dos Beatos: Paulo VI, Óscar Romero, Francisco Spinelli, Vicente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus, Núncio Sulprizio”, Praça de São Pedro, 14 Out. 2018, http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2018/
documents/papa-francesco_20181014_omelia-canonizzazione.html
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[3] Romero, homilia “Jesús es el verdadero Mesías: Vigésimo domingo del tiempo ordinario”, 16 Set. 1979, http://servicioskoinonia.org/romero/homilias/B/790916.htm.