Olhar os Lírios, Florescer no Mundo

03.03.2014

A partir de Is 49,14-15, 1Cor 4,1-5, e Mt 6,24-34:

Falar da providência, e do amor, é falar da união e permuta entre humanidade e divindade. Providência tem a mesma raiz de providenciar e ambas as palavras podem ser ligadas à universalidade da utilização de recursos e ao atendimento de necessidades. Tal conceito espiritual não pode, portanto, ser desligado da nossa acção, na medida em que ela pode bloquear essa utilização e esse atendimento. Jesus diz para olharmos como crescem os lírios do campo (Mt 6,28b), mostrando antes disso o que nos impede de o fazer: os interesses e as prioridades que nos alheiam do mundo onde florescemos. É precisamente esse modo de vida social que João Crisóstomo denunciou há dez séculos atrás, num comentário ao Salmo 49. As palavras dele continuam pertinentes e penetrantes: “Tu, que revestes a tua cama de prata e de ouro o teu cavalo, se te pedirem contas e explicações de tanta riqueza, que razão alegarás? Quando tu já estiveres morto, as pessoas que passarem diante do teu palácio, vendo o tamanho e o luxo, dirão ao seu vizinho: ‘Ao preço de quantas lágrimas foi edificado este palácio? De quantos órfãos deixados nus? De quantas viúvas injustiçadas? De quantos operários espoliados do seu salário?’”