Cruzes, Credo

27.11.2013

No domingo passado, o bispo de Coimbra, Dom Virgílio Antunes, encerrou um ano dedicado à fé com palavras que só agora tive oportunidade de ler. Disse ele que os cristãos devem ajudar “os homens e mulheres nossos irmãos a acolher e aceitar a sua própria cruz como caminho de redenção” e que “[u]m dos grandes obstáculos à fé está na dificuldade que todos temos de aceitar a nossa cruz, por nos parecer uma negação da nossa grandeza humana.” Aprendi com teólogos da libertação como o dominicano Gustavo Gutiérrez que uma fé cristã que não envolva uma prática de transformação do mundo é idealista. Fecha os olhos à realidade em que nos situamos. Contribui para a manutenção e fortalecimento de poderes opressores como os que mataram Jesus. É precisamente por isso que o sofrimento na cruz nos interpela e nos leva a afirmarmos, nas palavras e nos actos, que este sofrimento não é aceitável nem desejável, que é necessário trilhar um caminho diferente — que não surgirá sem a nossa abnegação, claro está. Num tempo em que tantas pessoas sofrem em Portugal, em situação social se agrava, Dom Virgílio decidiu de alguma maneira ignorar o pranto que se ouve nas ruas e que se instalou no dia-a-dia por entre a dor e a vergonha. Não há nada de errado no ensinamento, porque toda a gente enfrenta dificuldades e tribulações, de uma forma ou de outra, e Cristo está connosco e nós com Cristo quando lidamos com elas. Seja como for, o ensinamento tem de ser adaptado ao tempo no qual é articulado para dar poder dar fruto. Sem esse cuidado, pode ser entendido como a afirmação da passividade como virtude ou como um elogio do masoquismo.

Cabeça Alta

20.11.2013

A partir de Mal 3,19-20a, 2Tes 3,7-12, e Lc 21,5-19:

“Grandes coisas estão por vir”, lia esta semana no mural de um companheiro, frade dominicano, numa rede social informática. Uma inscrição destas circula pelo mundo porque nos corre no sangue e nos palpita no coração. De fora fica a dimensão passiva da espera. Quando falamos no que há-de vir estamos necessariamente a falar em algo que projectamos no futuro e que já antevemos no presente. Daí que, antecipando o crucificado, Malaquias fale do “sol de justiça” como uma irradiação que ele tem esperança que nasça na história da humanidade para se tornar medida da justiça. A questão que Paulo nos coloca é esta: qual é o contributo daquelas e daqueles que o podem dar para que essa possibilidade real se concretize? “Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”, diz o cântico para esta celebração que é simultaneamente a expressão de uma aspiração e um projecto de vida, a afirmação da dignidade humana e o potencial libertador que ela abre. Somos convidados a ser participantes perseverantes nesta mudança, com uma força que nos permite enfrentar a denúncia e o desprezo de quem não a quer.

A Liberdade Profunda

19.11.2013

Via fr. José Carlos, OP:

Dois sentidos da liberdade, duas maneiras de ser um homem livre, em extensão e em profundidade. Ser livre de tudo amar. Ser livre de ir tão longe quanto se possa e que se queira numa certa estrada, num certo amor ou numa ideia. E estes dois sentidos frequentemente são contrários, quem se estende até ao infinito permanece superficial.

MARIE-ALAIN COUTURIER, OP

Good Things

15.11.2013

The bride too in the Song of Songs says, “I have found him whom my soul loves” (3:4) and again, “All good things came to me along with her”. (Ws 7:11). This, after all, is the hidden heavenly treasure, none other than the pearl of great price, which must be sought with resolution, esteeming it in humble faithfulness, eager diligence, and calm silence before all things, and preferring it even above physical comfort, or honour and renown. For what good does it do a religious if he gains the whole world but suffers the loss of his soul?

ST. ALBERTUS MAGNUS, OP, On Cleaving to God

XIII Jornadas Nacionais da Família Dominicana

07.11.2013