Afazeres Humanos

02.08.2015

Regressado das cerimónias fúnebres da mãe de um amigo, lembrei-me de um episódio recente. Por vezes pensa-se que os padres sabem de antemão o que dizer numa ocasião destas, debitando chavões fáceis e vazios sobre a morte. Nem todos. Um consciencioso padre tinha que falar depois de um acidente que vitimou um miúdo e, dada a amizade que nos une, convidou-me a ajudá-lo. Faltavam-lhe as palavras. Nestas situações (e esta era particularmente trágica) é comum ficarmos sem palavras. Mas há pequenos gestos, que nos arrancam ao entorpecimento, que incitam a continuação da vida, ajudando quem diz adeus para que a perda não os engula. Enviei-lhe uma frase da carta que Basílio de Cesareia escreveu à viúva de Nectário: “Não meças a tua perda por si só; se o fizeres parecerá intolerável; mas se levares todos os afazeres humanos em conta vais descobrir que algum conforto é derivado deles.” No contexto definido pela frase, “afazeres humanos” é uma expressão que evoca, não apenas o que fazemos, mas também o modo como aquilo que fazemos nos vai fazendo humanos.