O Bosque (I)

19.08.2020


É tudo tão nítido e tão distante. O bosque permanecia cheio e vertical na despedida de ontem, aquele que eu olhava do meu quarto, aquele onde tudo era mágico. Tinha sete anos quando nos mudámos para aqui. Do lado de lá da linha férrea, a mata era maior do que a zona urbanizada. Com o passar dos anos, as árvores foram desaparecendo e os prédios crescendo em Massamá. No lado de cá, na rua onde morávamos em Tercena, as mudanças foram mais reduzidas. A zona, de um lado e de outro, tornou-se num grande “dormitório” de trabalhadores, como se dizia — não sei se ainda se diz. O mesmo é dizer que do nosso apartamento via o país que bulia para o comboio para trabalhar noutras paragens, gente remediada, muita em dificuldades constantes. Não era tão claro para mim como isso marcou a minha consciência até esta última visita. Cresci naquela casa na linha daquele bosque augusto, imagem do que fica, reflexo do que muda.