Quaresma VI
Deus mostra-se tal como a Sua Verdade disse: Quem me ama estará comigo e eu com eles, e hei-de mostrar-me a eles e faremos juntos uma morada. Assim é entre amigos muito queridos. O seu afecto amoroso faz deles dois corpos com uma alma, porque o amor transforma-nos no que amamos. E se estas almas se fazem numa alma com Deus, nada poderá ser escondido delas. É por isso que a Verdade de Deus disse, Virei e faremos uma morada juntos.
— S. CATARINA DE SENA, OP, O Diálogo
O Desejo que Nos Faz Viver
não se extinga o desejo que nos faz viver,
Deus do nosso desejoalimenta em nós o fogo das paixões
que nos leva a agir
e o fogo da palavra que por dentro queime
e faça escutatu que és o guardião do nosso desejo,
aviva a chaga que o nosso imaginário
constantemente quer sem falha;
que vivamos o nosso desejo sem culpabilidadecircuncide-nos o coração a espada do amor,
pregão antigo e novo
em nosso corpo adormecido e acordado— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Do desejo”
Quaresma V
A criatura, isto é, toda a Igreja, espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus, isto é, aqueles que são filhos de Deus pela fé na Igreja esperam a glória, onde contemplarão Deus face a face. Agora contemplam-no como que velado, porque o contemplam em espelho e em enigma. A criatura está sujeita à vaidade, ou seja, à mutabilidade. Porque o justo, no dizer de Salomão, cai ao dia sete vezes, não por querer, pois não tem pecado na vontade. A este, justo, foi dito: Vai e não voltes a pecar. Sofre esta mutabilidade pacientemente quem faz penitência por amor de Deus, que o sujeitou, isto é, que quis sujeitar-se ou permitiu ser sujeito. E isto com a esperança da vida eterna, sobre a qual se ajunta: E também a criatura será livre de sujeição desta corrupção e mutabilidade, transformada na liberdade gloriosa dos filhos de Deus.
— S. ANTÓNIO DE LISBOA, OFM, Sermões Dominicais
É Possível uma Teologia da Libertação Hoje, em Portugal?
O Convento de São Domingos em Lisboa propõe um curso livre sobre a espiritualidade latino-americana da libertação. Uma Fé Libertadora: É Possível uma Teologia da Libertação Hoje, em Portugal? será leccionado pelo frade dominicano e mestre Zen Rui Manuel Grácio das Neves, autor dos livros Utopía y resistencia: Hacia una teopoética de la liberación (Salamanca: Editorial San Esteban, 1994) e Mística e Revolução: Espiritualidade, Poesia e Ensaio para um Novo Milénio (Arrimal: CEPSE, 2012), entre outros. Mais informações aqui.
Quaresma IV
Ó Filho de Deus e Senhor meu! Como é que nos dás tantos bens juntos logo na primeira palavra? [...] Como nos dás, em nome do teu Pai, tudo o que se pode dar, pois queres que nos tenha como filhos? Porque a tua palavra não pode falhar. Obrigas a que a cumpra, o que não é pequena carga, pois que sendo Pai sofre connosco, seja qual for a gravidade das nossas ofensas. Se voltarmos para Ele, Ele há-de nos perdoar como ao filho pródigo, há-de nos confortar nas nossas provações, e há-de nos sustentar como deve fazer tal Pai — que forçosamente tem de ser melhor do que todos os pais deste mundo, porque n’Ele não pode haver senão todo o bem cumprido — e depois de tudo isto fazer-nos participantes e herdeiros com Vós.
— S. TERESA DE JESUS, OCD, Caminho de Perfeição
Mostra-me
Faz parte de uma das leituras da Liturgia das Horas de hoje, assinada pelo bispo Teófilo de Antioquia, do século II:
Se tu me dizes: “Mostra-me o teu Deus”, eu posso responder-te: “Mostra-me o homem que há em ti, e eu te mostrarei o meu Deus.” Mostra-me, portanto, como vêem os olhos da tua mente e como ouvem os ouvidos do teu coração.
Quaresma III
Isto, então, é o que eu penso sobre a Justiça de Deus. O meu próprio caminho é todo confiança e amor, e não consigo entender as almas que têm medo de um Amigo tão carinhoso. Às vezes, quando leio livros onde a perfeição é colocada diante de nós com o objectivo obstruído por mil obstáculos, a minha pobre cabeça rapidamente se cansa. Fecho o tratado erudito, que cansa o meu cérebro e seca o meu coração, e volto para as Sagradas Escrituras. Então tudo se torna claro e luminoso — uma só palavra abre horizontes infinitos, a perfeição aparece fácil, e eu vejo que é suficiente reconhecer a nossa insignificância, e como crianças entregarmo-nos nos Braços do Bom Deus.
— S. TERESA DO MENINO JESUS, OCD, Cartas para os Seus Irmãos Missionários