A partir de Act 3,1-10, Gal 1,11-20, e Jo 21,15-19:
Lemos num dos ditos dos padres do deserto: “Perguntaram a um ancião ‘Porque me acontece, constantemente, perder a coragem?’ E ele respondeu: ‘Porque ainda não descortinaste a meta.’” Das mortes de Pedro e Paulo se teceu a comunidade cristã, mas apenas na medida em que as suas vidas foram dadas por muitas e muitos, seguindo o gesto de Cristo. O Evangelho segundo João narra Jesus a dizer: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (15,13). Um amigo não ter de estar necessariamente por perto, mas está na mesma esfera, no mesmo projecto. Tiago é executado à espada. Pedro é encarcerado. A narrativa não fala do destino dele, que Orígenes no séc. III descreve como tendo sido o da crucificação de cabeça para baixo em Roma. Fala da sua libertação da ansiedade causada por um destino que lhe é imposto. Na carta a Timóteo, escrita por Paulo pouco antes da sua morte, quando estava preso em Roma, o apóstolo escreveu: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” Roma tornou-se um lugar central para os cristãos, não por causa do Vaticano que só surgiu muitos séculos depois, mas precisamente porque relembra a perseguição, o sofrimento, e a condenação à morte dos primeiros cristãos pelo Império Romano na sua capital. Inúmeras vidas foram ceifadas ao longo dos séculos, de pessoas religiosas e sem religião, agindo vezes sem conta em estreita colaboração na procura da justiça e da paz que Jesus anuncia. Se continuamos a honrar a memória de Pedro e Paulo é porque somos continuadores do seu legado na senda de uma nova humanidade (Ef 4,23-24).