Inicia-se hoje, e decorre até ao dia 26 de Julho, na Sociedade de Geografia de Lisboa, o congresso internacional Os Dominicanos no Mundo Luso Hispânico. O evento é co-organizado pela organização que o acolhe e pelos seguintes organismos: Instituto São Tomás de Aquino (ISTA), Centro de História de Além-Mar (CHAM) da Universidades Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos em Ciências das Religiões (CECR) da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora, e Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP). O programa encontra-se disponível para consulta aqui.
Apresento amanhã uma comunicação neste encontro científico, mais como leigo dominicano (e, por isso, estudioso) do que como perito (dedicado, presume-se). Trata-se de um trabalho que prolonga a investigação que tenho desenvolvido sobre a chamada teologia da libertação e os dominicanos associados a ela, como Gustavo Gutiérrez. Desta vez, centro-me em Frei Betto e na sua ligação a Cuba. Eis o resumo do que vou apresentar sob o título “Frei Betto em Cuba”:
Frei Betto é um religioso dominicano brasileiro, preso durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985) com outros frades de um convento em São Paulo, mais tarde sujeitos a interrogatórios e torturas. Tinham colaborado com um dos principais resistentes ao regime, Carlos Marighella, dissidente do Partido Comunista Brasileiro por não concordar com a rejeição da luta armada nesse contexto e, mais tarde, fundador do grupo de guerrilha Acção Libertadora Nacional (ALN). Em 1981, Frei Betto visitou pela primeira vez a ilha de Cuba. Havia de regressar doze vezes até encetar 23 horas de diálogo com Fidel Castro em 1985. São estas trocas de palavras que compõem o miolo de Fidel e a Religião: Conversas com Frei Betto (Lisboa: Caminho, 1986). Frei Betto abandonou um projecto de um livro sobre as comunidades cristãs em países socialistas. Em vez disso, acabou por publicar estes diálogos juntando-lhes uma curta introdução. O que encontrou ele em Cuba que, de alguma forma, satisfez o seu interesse pessoal em pensar a relação entre o cristianismo e o socialismo?Esta relação é estabelecida logo desde a primeira página, onde estão inscritas as três dedicatórias do volume. A primeira é a Leonardo Boff “sacredote, doutor e, sobretudo, profeta”. A segunda é a fr. Mateus Rocha que lhe “ensinou a dimensão libertadora da fé cristã e, como Provincial dos dominicanos brasileiros, estimulou esta missão”. A terceira, que reforça o enquadramento desta obra na teologia da libertação, agora sem referir nomes, é “a todos os cristãos latino-americanos que, entre incompreensões e na bem-aventurança da sede de justiça, preparam, a exemplo de João Batista, os caminhos do Senhor no socialismo”. Para encontrarmos uma resposta à questão formulada é necessário ler com atenção o livro. Particularmente relevantes são as passagens que procedem a uma análise das ligações entre a espiritualidade cristã e o pensamento marxista, mas também da importância da religiosidade na cultura popular cubana. Na sua variedade dinâmica, estes trechos vão definindo diferentes planos e níveis de discussão. Para além disso, é produtivo complementar esta leitura com textos que Frei Betto tem escrito, e entrevistas que tem dado, onde desenvolve um olhar conhecedor sobre a história e a realidade de Cuba, nesse processo olhando-se a si mesmo como cristão.