Há um momento em Uma Vida Escondida (A Hidden Life, 2019), o filme de Terrence Malick, que pode parecer desligado daquele que podemos pensar que é o drama principal: a recusa de Franz Jägerstätter, um agricultor e católico devoto, em fazer o juramento de lealdade a Hitler e combater ao lado dos nazis e a sua condenação à morte. Surge no encadeamento das imagens dos frescos de uma igreja. Vamos vendo o pintor Ohlendorf a trabalhar. E depois ouvimo-lo dizer isto:
O que fazemos é apenas criar... comiseração. Criamos... Criamos admiradores. Não criamos seguidores. A vida de Cristo é uma exigência. Não queremos ser lembrados disso. Portanto, não precisamos de ver o que acontece com a verdade. Está a chegar um tempo mais sombrio... quando os homens serão mais espertos. Não lutarão contra a verdade. Vão apenas ignorá-la. Eu pinto o seu Cristo confortável, com uma auréola sobre a sua cabeça. Como posso mostrar o que não vivi?
Pois bem, o que Franz vai viver é precisamente o trajecto de um seguidor de Cristo. Isto é, alguém que dá a vida pelo próximo, que torna a vida abundante em vez de escassa, que se coloca ao serviço empenhado dos necessitados deste mundo. Não faltarão agressões, injúrias, e incompreensões. Mas como diz o pai da esposa de Franz, Fani, no filme: é preferível sofrer uma injustiça do que cometê-la. O drama de Franz é o da convicção de uma vida e, por isso, não se circunscreve à sua prisão e julgamento. Na verdade, é o drama de cada ser humano, que na sua finitude, mais tarde ou mais cedo, é levado a procurar as suas raízes firmes, aquelas às quais não pode ser arrancado. Para isso é preciso aceitar que o percurso de uma vivência fiel da fé cristã não é um triste consolo, mas um alegre desassossego.