Fixo e reflicto sobre esta resposta do cón. Luís Manuel, director do Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa, em relação à redução da liturgia ao aspecto exterior da Celebração Eucarística:
Esse é um perigo de todos os tempos. Normalmente quando não se sabe o que se celebra prende-se à forma e não ao conteúdo. Quem não sabe o mistério que está a celebrar fica-se pelo exterior. Aconteceu, um dia, no fim de uma grande celebração na Sé, presidida pelo Senhor Patriarca, que alguém cumprimentando-o dizia ter visto um “espectáculo religioso tão bonito”. Esta expressão reflecte alguém que, certamente, esteve de fora. A liturgia não é espectáculo. A liturgia deve primar pela beleza que brota do mistério que ela celebra. O Papa Bento XVI na exortação apostólica Sacramentum Caritatis, quando fala da beleza da liturgia coloca essa beleza no crucificado e no Senhor ressuscitado. A beleza da liturgia está na celebração desse mistério redentor que perpassa pela fragilidade do crucificado mas, ao mesmo tempo, já vive da glória e da vitória do túmulo vazio do Senhor glorificado na manhã da Páscoa. É este mistério cristão que incute beleza à liturgia. A liturgia vive de ritos e de preces. Vive de ritos porque o Homem precisa da ritualidade. Nós não somos anjos, somos seres de mediação. Temos um corpo, faculdades, e enquanto vivermos na Terra toda a nossa liturgia vai ter de ser mediada por aquilo que Jesus nos deixou. E não é por acaso que Jesus nos deixa, nos sacramentos, os elementos básicos da natureza: no pão, no vinho, na água, na luz, no azeite, etc. Portanto, a liturgia vive de uma concretude. Não para que a concretude seja o fim da liturgia, mas porque Deus usou dessas realidades simples e básicas para nos comunicar a graça da redenção que cada sacramento nos traz. Ora a beleza da liturgia brota deste mistério todo. É claro que o canto, os paramentos, os gestos, as orações, devem ser belos. A presidência deve ser bela [...], o exercício dos ministérios ligados à liturgia devem ser feitos com a maior das belezas, mas aquela beleza que brota de um coração, de uma vida que está a celebrar um mistério.[1]
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[1] Nuno Rosário Fernandes, “Advento é Tempo de Espera, Conversão, Oração e Caridade: Entrevista ao Cónego Luís Manuel”, Voz da Verdade 3962, 28 Nov. 2010, 9 (ed. minha).