Quem Vigia o Vento Não Semeia (4):
O Julgamento Anula a Comunhão

07.12.2011

[...] O julgamento que fazemos sobre os seres, as coisas e as situações é induzido muitas vezes por uma vontade própria. A vontade própria deixa-se orientar pela escolha, inconsciente muitas vezes, daquilo que é conforme àquilo que eu penso. Basta-lhe ter razão. Esse sentimento de ter razão deixa-se tomar pela verdade. Aí a armadilha.

A suspensão do julgamento—esse modo de não escolher imediatamente sob a pressão da inveja, da repulsa ou da lógica—abre no pensamento o abismo de uma diferença entre dois interlocutores ou dois pontos de vista. A unidade não se encontra nunca em função da comparação e da oposição que arrasta consigo a procura de dominação.

[...]

É a violência que colocais na balança, diz o Salmo 58. O julgamento desliza rapidamente do lugar em que devia manter-se. Como se o prazer absoluto fosse ter razão contra a verdade. A alegria e o sofrimento não se definem opondo-se: são modalidade de um único desejo que no sofrimento se manifesta negativamente e na alegria positivamente. Deus revela-se na proximidade da origem, a comunhão, que permite reconhecer-me nos outros e aos outros se reconhecerem nele.

O desejo é a dimensão essencial da fé. A idolatria consiste em apropriar-se de uma ou de representações tidas por Deus em vez de confessar a presença de Deus na Assembleia dos homens—e isso é a fé.

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Abraão - Exeunt as Representações”

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