Um Ano

05.05.2012

Fr. José Augusto Mourão morreu há um ano. Tempo nenhum:

Há entre nós um espaço de realidade que ignoramos e de que nada podemos dizer senão que existe e nos dispõe em profundidade de modo que quando vamos a Ele, a questão do encontro ultrapassa o simples facto de o ver. À nossa profundidade responde a sua profundidade. Não quer dizer que o que está em causa esteja votado à ignorância ou ao anonimato — isso surgirá no dia último, aquando da ressurreição. Entre estes dois campos, actualmente disjuntos, o da origem, disposto pela mão do Pai e o da ressurreição, proposto à guarda do Filho, situa-se o lugar de encontro em que um personagem singular se apresenta ao acto singular do crer: creio na ressurreição dos mortos. Há uma fronteira no interior de nós — entre o que nos é dado e o que em nós acredita. Do que nos é dado não decidimos; do crer, devemos decidir.

Recusar a ressurreição de Cristo é resignar-se a acabar. A ressurreição de Jesus é de certo modo a eternidade que entra no tempo, ou o tempo que acede à dimensão da eternidade. A vida (eterna) está em nós e a comunhão nas nossas vidas (de filhos), nas nossas experiências, nos nossos amores, se aceitamos viver, sentir, amar, sob o signo do jardineiro que anuncia a Páscoa.

— “Morrer e Ressuscitar”