A Fé Resolve-se Numa Promessa

03.11.2012

José Tolentino Mendonça sobre a fé e o seu sabor:

Muitas vezes, para explicar o que é a Fé, vou buscar a imagem de Delacroix sobre o encontro noturno de Jacob e o Anjo. Volto a ela repetidamente porque, na espécie de teologia visual que ali se constrói, encontro o realismo, a lucidez e a consolação que a maior parte dos discursos teóricos não nos dá. No fundo, o que é que nos diz?

Diz-nos que a Fé é uma experiência inseparável da história de cada um. No jogo da Fé expomos o nosso corpo como Deus expõe o Seu; tocamos e somos tocados, num encontro sem armaduras nem artifícios. A presença é sempre reclamada por inteiro. E as presenças que mutuamente se entregam (a de Deus e a nossa) inauguram um presente.

Depois, diz-nos que a Fé, mesmo quando se desenha com percurso ao sol, não deixa de ter uma condição noturna. A Fé integra necessariamente um estado de pergunta, de incerteza, de maturação e de caminho. Não se trata de uma marcha por evidências, mas de uma sucessão de começos ancorados na confiança.

E por fim, mostra-nos que a tensão da Fé se resolve numa promessa, num abraço, numa dança. E não apenas como realidade projetada num além, mas já no aqui e agora saboreada.