Este é o facto. Não basta dizer que Cristo assim quis e pronto. Seria o elogio da arbitrariedade. Ele devia ter as suas razões para agir deste modo. Quais poderiam ser?
Foi Jesus que escolheu e chamou os seus discípulos. Acabou por descobrir que eles não O entendiam, nem estavam interessados no seu projecto. No Evangelho de S. Marcos, a grande discussão que os animava, no âmbito da tomada do poder, centrava-se na distribuição de lugares. (Mc 4,34). Dois deles encheram-se de coragem e colocaram ao Mestre as suas exigências: quando triunfares, como rei messiânico, nós queremos os dois primeiros lugares. Esta pressa produziu uma grande indignação nos outros. Depois de uma reunião, receberam todos a mesma resposta: aquele que quiser ser o primeiro, de entre vós, seja o servo de todos (Mc 10,35-45).
Alimentaram sempre a esperança de que Jesus acabaria por perceber que esse rumo só o podia levar ao desastre. Pedro tentou, até à última, mostrar-lhe que tinha mesmo de mudar. Os apóstolos, quando viram o Mestre derrotado na cruz, aperceberam-se de que tinham andado enganados. Acabara-se o tempo das ilusões e cada um voltou à sua vida. Já tinham perdido muito tempo.
Bento Domingues, OP, “A Ressurreição Continua”
08.04.2013