17.06.2013Na tradição da teologia mística do famoso Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V-VI), dizer Deus é referir-se à profundidade infinita e inapreensível do mistério. Nenhum nome lhe pode ser verdadeiramente adequado. Ao ser evocado na linguagem simbólica, sabe-se que esta vem dos abismos do silêncio e carrega, em cada afirmação, uma negação para vencer a tentação da idolatria. Quando alguém se fixa em representações de um deus unissexo ou pluri-sexual não se salta para fora dessa prisão. Só é possível chamar a Deus Pai e Mãe ou referir-se ao rosto materno de Deus, quando se vive na raiz da linguagem metafórica. Esta remete para a Realidade que não cabe em nenhum conceito nem se esgota em nenhuma experiência. O cristianismo não pode esquecer as suas raízes: o amor crucificado que não renuncia à pátria da alegria. Às expressões de “espiritualidades apoetadas”, de meladas facilidades, aconselharia uma cura na poesia de Herberto Helder, de Paul Celan, de Angelus Silesius ou na mística do Mestre Eckhart.