08.07.2013Ninguém pode, no entanto, ser proibido de imaginar o mundo divino segundo os recursos das suas tradições culturais e religiosas, com a liberdade e ousadia criadoras dos artistas de cada época. A beleza do livro de Rebecca Hind resulta da recolha esmerada de expressões artísticas na diversidade do mundo religioso. Nesta imensa diversidade, nenhuma obra pode pretender ser a expressão adequada de Deus e muito menos a sua fotografia. A verdadeira arte não fecha o mundo. Sugere universos que não cabem em conceitos e representações definidas. Não fixa, abre a imaginação. Fruto de uma grande viagem, este livro ajuda a visitar mundos que nunca podem ser circunscritos. Apenas modestamente sugeridos.
Entre todas as artes, aquela que menos distrai do infinito divino, por absoluta ausência de referente, é a grande música. A de J. S. Bach nasceu para nos dar o sentimento de Deus e dos mistérios cristãos. K. Barth prometeu que, ao chegar ao céu, iria pedir aos anjos para tocarem Mozart. Eduardo Lourenço, como sempre, sabe escrever destas coisas como ninguém.