A partir de Is 8,23b–9,3, 1Cor 1,10-13/17, e Mt 4,12-23:
Ainda estamos em Janeiro, mas falemos de Maio, o mês maduro. Diz Ruy Belo no poema “E Tudo Era Possível”: “Chegava o mês de Maio, em tudo florido / o rolo das manhãs punha-se a circular / e era só ouvir o sonhador falar / da vida como se ela houvesse acontecido”. Este homem que sonha inspirado pelo que brota e que fala da vida possível como um facto está próximo daqueles de que ouviremos falar hoje: os que “se alegram no tempo da colheita” (9,2), os que colhem o que semearam na Galileia, a terra de Zabulão e de Neftali. É neste mesmo território que, segundo Mateus, Jesus primeiro proclama o futuro, sarando o que corroía o povo e o desunia. No texto de Isaías lemos que o que está para vir libertará o povo, quebrando “o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz” (9,3). A união que Paulo indica aos Coríntios, numa mensagem extensível a outros povos, está na imagem daquele que oferece o corpo por essa libertação, crucificado pelo que diz e pelo que faz. Ao realizar o que Isaías prometeu, Jesus, no encalço de João Baptista, lembra-nos que uma voz contém muitas vozes, as vozes que a precederam ontem e as vozes que anuncia para amanhã. A nova da proximidade do reino que ele traz é anunciada pela sua presença e acção, mas se esta presença não se desvaneceu pelos séculos dos séculos e um mundo de justiça e paz permanece à mão de semear é porque as nossas mãos continuam atarefadas a construir um futuro mais pleno.