Por motivos profissionais, não acompanhei como queria, nem como considero que devia, a visita de Francisco a Fátima como peregrino. Mas daquilo que vi o que me pareceu mais impressionante foi a oração silenciosa de 8 minutos que foi acompanhada por todas as pessoas presentes, cessando os “Viva o Papa!” e os “Francisco! Francisco!” A televisão não aguentou este silêncio. Era preciso falar, encher o ar, trocar a respiração consciente pelo discurso incessante. A meditação que se abriu perante Maria, mãe de Jesus, porta do divino, aquela “dos olhos misericordiosos”, foi sobre esta necessidade de deixar o silêncio falar ou de falarmos entre nós em silêncio. Um silêncio destes, no contexto da espera de um discurso foi também o esvaziamento da presença do Papa, como se o mundo se tornasse verdadeiramente presente através da sua suspensão, da paragem do seu movimento que tantas vezes nos obriga a falar sem ouvirmos. No princípio era este silêncio espesso da palavra sem pio. E sem aceitarmos o confronto com esta origem na qual se inscreve tudo o que dizemos, não haverá a concórdia entre os povos de que Francisco falou depois, fazendo rimar o silêncio experimentado momentos antes com o branco manchado pela violência da humanidade dividida contra si própria: “Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do Cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos.”