Na sexta-feira passada, o Papa Francisco presidiu ao acto de consagração ao Imaculado Coração de Maria de toda a Igreja Católica, de toda a humanidade, “de modo especial à Rússia e à Ucrânia. Acolhei este nosso acto, que realizamos com confiança e amor; fazei que cesse a guerra, provede ao mundo a paz.” Tinha dito antes: “O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o Vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria.”
A oração teve algum eco na comunicação social, mas talvez a tentação seja entendê-la como um gesto bem-intencionado, mas ingénuo. A própria religião é, por vezes, vista desta forma, como se fosse uma evasão da realidade. Ora, foi o próprio Francisco que explicou, para quem não soubesse, que não se trata “duma fórmula mágica, mas dum acto espiritual”. Um acto espiritual é um exercício de assumir e convidar a que se assuma outro olhar e outro foco.
A lógica da guerra tem vencido em quase todas as frentes, não apenas na militar. Basta percorrer as redes sociais. Se, como disse Francisco na sexta-feira, “perdemos o caminho da paz,” é urgente não desistirmos dele, sob pena de aceitarmos a guerra como uma inevitabilidade.
Em 2020, a Família Dominicana dedicou o seu mês da paz à Ucrânia, onde tem irmãs, frades e leigos. Nesse momento, relembrámos a guerra fratricida que assola o país desde 2014 e pedimos empenho na solidariedade com as vítimas e na luta pela paz e reconciliação na Ucrânia.
O coração da humanidade está despedaçado, inundado de sangue com esta e outras guerras, como as que se arrastam no Afeganistão, na Etiópia, no Haiti, no Iémen, em Mianmar, em Moçambique, na Palestina e na Síria. Da Quaresma à Páscoa, não podemos pedir mais do que o caminho do coração refeito na fraternidade humana, que é a via do coração sem mácula de Nossa Senhora.


