É certo que não deixou nada escrito, não encarregou ninguém de escrever e os textos cristãos não impõem uma interpretação única. Remetem para a participação na realidade viva de Cristo.
Os cristãos e as suas comunidades, como todos os grupos humanos, nascem e desenvolvem-se numa história marcada por tradições, mas sem estarem condenados a repeti-las. O Espírito de Pentecostes, que celebrámos no Domingo passado, é fonte de inovação segundo a pluralidade de carismas pessoais e de grupo.
Bento Domingues, OP, “O Segredo da Alegria de João XXIII (1)”
Lutar com os Nossos Irmãos pela Sua Dignidade
Hoje de manhã, numa reunião da Liga Operária Católica em Coimbra dissemos que "iremos lutar com os nossos irmãos pela dignidade que se lhes retira". Assim continuará a ser.
Foi a Verdade
Quando a razão natural, o testemunho da Lei e dos profetas, o ensinamento dos Apóstolos e dos seus sucessores, conduziram um homem, como que pela mão, até ao acto de fé, pode esse homem dizer, então, que não foi nenhum dos motivos precedentes, que não foi a razão natural, que não foi o ensinamento dos homens que o fizeram crer, mas somente a Verdade primeira por si mesma.
— S. TOMÁS DE AQUINO, Comentário sobre São João
Bento Domingues, OP, “Celebrar a Subversão”
Para o Nazareno, o dia consagrado a Deus deve ser o que celebra o acontecer actual da libertação e que fora transformado numa nova prisão. A tentação católica é sempre a de esquecer que o Domingo é para celebrar, de forma eficaz, a subversão de tudo o que mata a vida e a alegria. Liberta, em nós, o Espírito da ressurreição, fonte de insurreição.
Pentecostes
Ó fogo reconfortante do Espírito,
Vida, dentro da própria Vida de toda a Criação.
Santo és tu em dar vida a Tudo.— S. HILDEGARDA DE BINGEN, OSB, “Ignis Spiritus Paracliti”
Bento Domingues, OP, “Ainda Há Muito a Fazer”
A solução do referido pragmático não é um atentado à vida humana pois, agora por agora, a morte é certa. O método proposto apressa o céu aos crentes. Os não crentes na vida depois da morte são poupados às doenças, aos hospitais e aos lares que tornam a vida um inferno laico. Os que acreditam na reencarnação só começam mais depressa a nova experiência de vida. Quem insiste em convicções humanistas e religiosas, sobretudo as que destacam o valor absoluto da pessoa humana, criada à imagem de Deus, não se podem queixar, pois a divindade só pode ver com bons olhos uma solução que evita sofrimentos desnecessários.
Esta pragmática tão despachada é uma divindade despótica, própria de uma era que não acredita em milagres de bondade e solidariedade mas, sobretudo, por já ter o futuro todo previsto e desenhado. Depois de ter transformado o ser humano numa coisa, sem sentimentos, sem liberdade e sem interrogações, é fácil determinar o que convém e não convém a essa estranha criatura.
Bento Domingues, OP, “A Ditadura do Medo”
Só quando venceu o medo dentro dele próprio, enfrentou o perigo, embora, em plena oração no Jardim das Oliveiras, tenha sido assaltado por extrema angústia. As mulheres foram as únicas que, depois do desastre, venceram o medo. Os discípulos viveram trancados, enquanto o Espírito Santo não os modificou até à raiz e abriu o seu judaísmo ao mundo pagão, ao mundo dos gentios. Isto não aconteceu sem um grande debate no Concílio de Jerusalém. É o tema da Missa de hoje.
Os Evangelhos, ao colocarem na boca de Jesus um repetido “não temais”, dizem que não era a audácia que os animava.
O medo paralisa, o amor é criativo.