What has constrained me? Not my virtues, but only Your charity. May that same charity constrain You to illuminate the eye of my intellect with the light of faith, so that I may know and understand the truth which You have manifested to me.
— ST. CATHERINE OF SIENA, OP, The Dialogue
Just as it is better to illuminate than merely to shine, so to pass on what one has contemplated is better than merely to contemplate.
— ST. THOMAS AQUINAS, OP, Summa Theologica
Illuminate
On Faith
Faith is one of the most misunderstood concepts in religion. There is a difference between faith and blind faith and there is a connection between reason and faith, understood as belief and trust. As Augustine says, we are invited to faith.
These two videos by fr. Robert Barron discuss this topic in a clear and absorbing way. Fr. Barron lives in Chicago and received his doctorate in Theology from the Institut Catholique de Paris.
Denise Levertov, Poet of the Divine
I have already written about Carolyn Forché. Some time ago, I came across another outstanding female poet: Denise Levertov (1923-97). She was British, but moved to the United States after her marriage with American writer Mitchell Goodman in 1947. Her father was a Russian Hassidic Jew who became an Anglican priest. Denise was an agnostic for most of her life. Finally, she converted to Christianity in 1984 and five years later she became a catholic. Given this path, it is no surprise then that her poetry became the site where she expressed and liberated an ardent, subtle, evocative, and concrete vision of God (a powerful catholic vision, in short). Here is “Annunciation”, an apt poem one week after the Feast of the Immaculate Conception, presented in its original graphic form:
Hail, space for the uncontained God
— from the 6th Cent. Greek “Agathistos Hymn”We know the scene: the room, variously furnished,
almost always a lectern, a book; always
the tall lily.
Arrived on solemn grandeur of great wings,
the angelic ambassador, standing or hovering,
whom she acknowledges, a guest.
But we are told of meek obedience. No one mentions
courage.
The engendering Spirit
did not enter her without consent.
God waited.
She was free
to accept or to refuse, choice
integral to humanness.
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Aren’t there annunciations
of one sort or another
in most lives?
Some unwillingly
undertake great destinies,
enact them in sullen pride,
uncomprehending.
More often
those moments
when roads of light and storm
open from darkness in a man or woman,
are turned away from
in dread, in a wave of weakness, in despair
and with relief.
Ordinary lives continue.
God does not smite them.
But the gates close, the pathway vanishes.
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She had been a child who played, ate, slept
like any other child – but unlike others,
wept only for pity, laughed
in joy not triumph.
Compassion and intelligence
fused in her, indivisible.
Called to a destiny more momentous
than any in all of Time,
she did not quail,
only asked
a simple, “How can this be?”
and gravely, courteously,
took to heart the angel’s reply,
perceiving instantly
the astounding ministry she was offered:
to bear in her womb
Infinite weight and lightness; to carry
in hidden, finite inwardness,
nine months of Eternity; to contain
in slender vase of being,
the sum of power —
in narrow flesh,
the sum of light.
Then bring to birth,
push out into air, a Man-child
needing, like any other,
milk and love —but who was God.
Nos 500 anos do Sermão de Montesinos
A Ordem dos Pregadores propõe uma série de eventos em volta do conhecido sermão do frade dominicano António de Montesinos, que ficou na História como a primeira defesa dos direitos naturais e humanos dos índios americanos:
Foi no IV Domingo do Advento do ano de 1511 que na ilha de Santo Domingo de La Hispaniola, actual República Dominicana e Haiti, que Fr. António de Montesinos, em nome da Comunidade, prega um sermão em que defende os direitos dos índios:
Com que direito e com que justiça tendes estes índios em tão cruel e horrível servidão? Com que autoridade fizestes tão detestáveis guerras a estas gentes que estavam nas suas terras, mansas e pacíficas, onde consumistes um número infindável delas com mortes e estragos nunca ouvidos? Como é que os tendes tão oprimidos e esgotados, sem lhes dar de comer nem curar as suas doenças, que pelos excessivos trabalhos a que os sujeitais vos morrem, melhor será dizer, os matais, para arrancarem e, conseguirem ouro todos os dias. E que cuidado tendes em que sejam doutrinados e conheçam o seu Deus e criador, sejam baptizados, oiçam missa, guardem as festas e domingos? Estes não são homens? Não têm almas racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Não entendeis isto?
Este sermão, recolhido por fr. Bartolomeu de Las Casas, na sua História das Índias, tornou-se o grande testemunho de uma Igreja perto dos pobres e dos indefesos, abrindo uma dimensão profética da justiça e paz.
Nós, Dominicanos, iremos assinalar este acontecimento, quinhentos anos depois, nas mesmas datas litúrgicas e históricas, com as seguintes actividades:
17 Dez.:
Retiro de Advento (9:30-18:00), sob o tema por caminhos da justiça e da verdade. (inscrição até 15 Dez., 15 euros)
Tolentino Mendonça, “É pela Sede que se Aprende a Água?: O Paradoxal Caminho das Bem-Aventuranças”
Rui Grácio, OP, “O Sermão de Montesinos, Hoje, Aqui e Agora: Algumas Perguntas, Desafios e Tarefas”
18 Dez.:
Missa do IV Domingo do Advento (12:00), com a distribuição de uma cópia do Sermão de Montesinos.
19 Dez.
Exibição do filme También la lluvia (2010) (21:00), real. Icíar Bollaín, com Gael García Bernal, Luis Tosar e Karra Elejalde. (entrada livre)
21 Dez.:
Sermão de Montesinos (21:30), lido por Luís Miguel Cintra e complementado com o canto de peças gregorianas de Advento. (entrada livre)
Local: Convento de São Domingos, R. João de Freitas Branco 12, Lisboa
Informações: 210322300
沈黙
The title of this post reads Chinmoku, which means Silence. It is the name of a famous novel written by Shūsaku Endō (1923–96), published in 1966. Martin Scorsese is now adapting it to film. It is great news that Scorsese is returning to directly spiritual topics. Although we may say that his films are always about the struggles of the soul, as Shutter Island (2010) demonstrates, this kind of direct engagement has not happened since the late 1990s with Bringing Out the Dead (1999).
The book tells the story of a Portuguese Jesuit missionary, Sebastião Rodrigues (based on the historical figure Giuseppe Chiara), sent to Japan in the 17th century to aid the local Church and investigate reports that his mentor, Cristóvão Ferreira, has become an apostate. What he finds is open persecution and the Kakure Kirishitan (Hidden Christians), a modern term for the members of the Japanese Catholic Church who went underground after the Shimabara Rebellion in the 1630s. Written partly in the form of letters by the protagonist, the themes of the silence of God and of the trials of faith were informed by the author’s experience of religious discrimination in Japan, racism in France, and debilitating tuberculosis. The novel won the prestigious Tanizaki Prize. It is considered Endō's finest work.
Endō is one of the most celebrated writers of the Third Generation, so called because it was the third major group of writers to emerge after World War II. He wrote from the uncommon perspective of being both Japanese and a Catholic convert. Leith Morton, a scholar who has studied the image of Christ in Endō’s fiction, argues that his writings were dominated by a single theme: the belief in Christianity.
Quem Vigia o Vento Não Semeia (7):
O Amor Torna Deus Visível
A imitação de Deus é difícil: nós nunca amamos como Ele ama. Nunca ninguém viu Deus. [...] Conhecemos o amor de Deus se acreditamos no dom de Cristo ao mundo e se reconhecemos no pobre, no que sofre, no louco, no mal-amado a presença d’Ele. [...] O amor visibiliza Deus: só sabemos que amamos Deus se amamos os nossos irmãos.
[...] Uma comunidade não é um club, uma tribo mas um corpo que caminha. [...] Há graus de chegada ao mistério muito diversos: nós não estamos todos no mesmo patamar em nada, nem mesmo na fé. Ser fiel à comunidade é ser fiel à diversidade que a constitui, ao que nos é comum, aos serviços que exigem a nossa presença. A comunidade como fusão de corações e aleluias é um mito. A comunidade não é a fusão na unidade mas a comunhão na diversidade que é um dos frutos do Espírito. E a preocupação maior é não perder ninguém pelo caminho qualquer que seja o seu grau de fé ou de esperança.
[...] A fé começa quando, pela mão de Jesus, começamos a encontrar com confiança o nosso próprio ser e os mecanismos de defesa contra uma ou outra das quatro grandes angústias existenciais: a solidão, a imperfeição, o absurdo e a finitude. Porque em Deus encontramos a unidade original e a confiança radical: a vida. Aquilo que levou Jesus à morte foi que ele deixou de ter medo da morte como poder último. É o que mostra a ceia: entrega o seu corpo nas mãos dos seus discípulos (e perseguidores); enquanto eles fogem, Jesus rectifica a sua confiança em Deus diante da angústia que a morte representa.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “A Imitação de Deus”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia: (1) · (2) · (3) · (4) · (5) · (6)
Quem Vigia o Vento Não Semeia (6):
Para Lá do Que Se Imagina
[...] Ora, a vida, em cristianismo, é um movimento caracterizado pelo dom de si ou a “doação” sem porquê. O dom não é uma forma dissimulada de transacção comercial, mas o trabalho do desejo. O dom consiste em se deixar atrair para lá do que se imagina. É a nossa abertura à presença do outro.
[...] A fé, como o amor, não consiste nem em acreditar cegamente e sem razão nem em recitar o catecismo duma nova lei mas na decisão de acolher ou não aquilo que se oferece, a existência autêntica ou a recusa desta existência.
[...]
Ver não é rever mas adivinhar contornos, formas de habitar. É preciso manter atenção ao tempo, não quebrar a linha inseparável entre o céu e a terra.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Rosto e a Sua Sombra”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (5):
O Princípio do Acontecimento
Diz o poeta persa Farîd Uddîn Attâr: “Há uma diferença entre conhecer o caminho e caminhar”. O que é dizer que o conhecimento puramente teórico não basta, que a consciência deve comprometer-se num determinado número de experiências que constituem a sua educação ou a sua formação. São estas noções de experiência e de caminhada que são aqui essenciais. Não temos acesso à verdade, à felicidade ou à satisfação senão atravessando uma série de provas que são como momentos ou mediações através dos quais ela se confronta com a náusea e a exterioridade do mundo. Se toda a época e toda a cultura comportam um princípio de clausura, este princípio é sempre contrariado por um outro, o princípio do acontecimento.
Juntemo-nos ao salmista na lamentação em que se tornou a vinha. Ilumine-nos o Deus das vítimas, não o dos vencedores, da abertura, não da clausura. E que a sua paz guarde os nossos corações. Que haverá de mais precioso, de mais doce e mais gratuito?
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Filho e a Pedra”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (4):
O Julgamento Anula a Comunhão
[...] O julgamento que fazemos sobre os seres, as coisas e as situações é induzido muitas vezes por uma vontade própria. A vontade própria deixa-se orientar pela escolha, inconsciente muitas vezes, daquilo que é conforme àquilo que eu penso. Basta-lhe ter razão. Esse sentimento de ter razão deixa-se tomar pela verdade. Aí a armadilha.
A suspensão do julgamento—esse modo de não escolher imediatamente sob a pressão da inveja, da repulsa ou da lógica—abre no pensamento o abismo de uma diferença entre dois interlocutores ou dois pontos de vista. A unidade não se encontra nunca em função da comparação e da oposição que arrasta consigo a procura de dominação.
[...]
É a violência que colocais na balança, diz o Salmo 58. O julgamento desliza rapidamente do lugar em que devia manter-se. Como se o prazer absoluto fosse ter razão contra a verdade. A alegria e o sofrimento não se definem opondo-se: são modalidade de um único desejo que no sofrimento se manifesta negativamente e na alegria positivamente. Deus revela-se na proximidade da origem, a comunhão, que permite reconhecer-me nos outros e aos outros se reconhecerem nele.
O desejo é a dimensão essencial da fé. A idolatria consiste em apropriar-se de uma ou de representações tidas por Deus em vez de confessar a presença de Deus na Assembleia dos homens—e isso é a fé.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Abraão - Exeunt as Representações”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (3):
Dor e Amor
O cristianismo não produziu um saber propriamente falado sobre as origens e as transformações destes estados [nascimento, separação, frustração, falhas diversas—variantes do sofrimento] mas evidenciou-o em descrições de uma fineza inigualável, nos místicos sobretudo. O cristianismo diz-nos que o sofrimento humano é partilhável. Esta é a primeira revolução do cristianismo. Cristo, ao assumir o sofrimento, confere-lhe uma dignidade nunca vista; o sofrimento é igualmente partilhável entre os humanos que têm de o olhar em face, nomeá-lo e interpretá-lo. [...]
Jesus vem perturbar a ordem do medo e da expulsão instalada, o dispositivo religioso. Jesus precipita o tempo e desmascara os dispositivos que tudo justificam. Está próximo o Reino; é preciso que tudo se decida. A partir de Jesus, o mundo é um mundo em devir, orientado para o Bem, abençoado. Jesus diz que o sofrimento é inerente à reconciliação do humano e do divino. Não é imposto do exterior. O homem cristão é um homem de dor e de amor.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Milagre de Existir”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (2):
A Surpresa de Deus
Só a crença na presença de Deus na nossa vida altera o que sabemos de nós e do mundo. Deus, ao encarnar, tornou-se um de nós. Não imitamos Deus fugindo do mundo e de nós, com paliativos e denegações. Deus fez o contrário (Hino [Cristológico] aos Filipenses [Fl 2,6-11]). Jesus escolheu a morte, isto é, deu-lhe um sentido: nenhum bode salva. A morte de Jesus situa-se na continuidade dos crimes de Abel e dos profetas. O que há de singular na morte de Cristo não é o modo como morre mas que, em vez de se terminar por uma sacralização de bode expiatório, acabe por uma dessacralização de qualquer sistema. Só a Cruz nos surpreende, nos arranca à mundanização de Deus: Deus vem de Deus.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Festa dos Ramos”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia: (1)
Quem Vigia o Vento Não Semeia (1):
O Espectador e o Crente
Nós somos espectadores do mundo e produtores das aparições deste mundo e de todo um outro mundo. A condição do espectador é a de um sujeito que está continuamente a mudar de lugar. O olhar do espectador (e do crente) é movimento se ele quer escapar à paralisia da morte. Assim o diz a experiência das mulheres naquela manhã, assim o diz a nossa experiência de crentes, obrigados que estamos a uma verdadeira hermenêutica da reminiscência que só post factum Resurrectionis se cumpre, obrigados que estamos ao testemunho: afinal, os únicos testemunhos de Deus somos nós. Nós somos os iniciados duma passagem com um fim à vista.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Este é o Jardim que a Ausência Permite”
Communio
At the centre of Christianity is community; we are gathered by the Lord around the altar.
— TIMOTHY RADCLIFFE, OP
Apelo ao Fim da Pena de Morte
O Papa Bento XVI lançou ontem um apelo ao mundo para a eliminação da pena de morte:
Espero que as vossas deliberações encorajem as iniciativas legislativas e políticas que estão a ser promovidas num número crescente de países para eliminar a pena de morte e continuar o progresso substancial feito para tornar a lei penal conforme à dignidade humana dos prisioneiros e à manutenção efectiva da ordem pública.
Bento XVI falava numa audiência pública no Vaticano, a propósito da iniciativa contra a pena capital intitulada No Justice Without Life (Não Há Justiça Sem Vida), que reuniu delegações de vários países.
Sobre o Amor
Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.
— 1Jo 4,16
Onde existe o Amor existe a Trindade: um que ama, um que é amado e uma fonte de amor.
— S. AGOSTINHO
Temos de conhecer as pessoas e as coisas humanas para as amar. Temos de amar a Deus e as coisas divinas para as conhecer.
— BLAISE PASCAL
A medida do amor é amar sem medida.
— S. FRANCISCO DE SALES, OFMCap
O amor é a alegria pelo bem; o bem é o único fundamento do amor. Amar significa querer fazer bem a alguém.
— S. TOMÁS DE AQUINO, OP