Bento Domingues, OP, “O Pacto das Catacumbas”
“No contexto de pobreza e até miséria em que vive a maioria do povo latino-americano, os bispos, sacerdotes e religiosos têm o necessário para a vida e também uma certa segurança, enquanto os pobres carecem do indispensável e se debatem no meio de angústia e incerteza”.
Testemunho na Peregrinação da Diocese de Coimbra
Deixo o registo do meu testemunho na recente Peregrinação da Diocese de Coimbra a Fátima:
A Mudança no Mundo do Trabalho
As informações detalhadas e os contributos das entidades participantes podem ser consultadas aqui.
Bento Domingues, OP, “O Sagrado Coração de Jesus Mal Pintado”
Como encontrar nas ditas imagens do “sagrado coração de Jesus” a beleza deste apelo?
Erguer a Voz Sem Medo
O bispo Januário Torgal Ferreira relembrou ontem o antigo bispo do Porto, António Ferreira Gomes, na Celebração Eucarística que fechou o XV Congresso da Liga Operária Católica. Foi ele que ergueu a voz para dizer a Salazar que “os frutos do trabalho têm de ser repartidos com justiça e equidade a todo e qualquer trabalhador”. Coube-lhe o exílio, mas as suas palavras corajosas não podiam ser apagadas. Januário Torgal reafirmou que os cristãos devem erguer a voz contra um sistema socioeconómico que cria injustiça e miséria. Apelou ainda a que vençam o medo (ecoando Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP-IN, que tinha falado momentos antes). Assim seja.
Subtrair Deus de Deus
No sábado passado, o Rui Damasceno leu o poema “O Actor” de Herberto Helder. Ouvimos estas palavras durante uma tertúlia sobre teatro, junto ao Mondego, promovida pela Câmara Municipal de Coimbra no contexto da Feira do Livro e de Artesanato da cidade:
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Bento Domingues, OP, “O Segredo da Alegria de João XXIII (2)”
A evasão gnóstica foi denunciada por S. João ao falar de Cristo como Aquele “que ouvimos, vimos com os nossos olhos e nossas mãos apalparam da Palavra da vida [...] E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,1-4). A pregação e a intervenção da Igreja só valem na medida em que forem Evangelho, isto é, revelação de que, da parte de Deus, todos somos amados, mas com um encargo: “amai-vos uns aos outros” (Jo 15,12-17).
Dir-se-á que qualquer um, em dia sim, poderia escrever algo parecido. Esqueci, nas transcrições referidas, uma frase que perturba essa veleidade: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. Não fica por aqui: “sois meus amigos se esta for a vossa prática”. Se os bons sentimentos não chegam para a boa literatura, também não são as boas intenções que nos salvam.
A Unidade por Cumprir
A partir de Gen 14,18-20, 1Cor 11,23-26, e Lc 9,11b-17:
Neste domingo, vamos ouvir como o pão e o vinho trazidos por Melquisedec enaltecem o combate que Abraão fez a saqueadores e raptores. Melquisedec é sacerdote como Cristo, ou seja, é alguém que torna sagrado. Como relembrou o Concílio Vaticano II também os leigos são sacerdotes neste sentido. Tornamos sagrado quando pomos à vista como o quotidiano se abre ao divino e como o homem se eleva realizando o seu potencial. Tal movimento é inseparável da unidade que experimentamos na comunhão eucarística do mesmo pão, do mesmo vinho, do mesmo espírito — uma unidade que transportamos connosco e concretizamos de muitas formas. É o que Jesus faz quando reparte os alimentos disponíveis por uma multidão, saciando-a. Olhando à nossa volta, constatamos que os recursos não são usados assim. Nos primórdios do cristianismo, a refeição ritual dos cristãos era chamada festa do amor. Continua a sê-lo. Mas não nos esqueçamos que Abraão e Jesus batalharam e entregaram o corpo e a vida para que o amor se cumprisse. Talvez as crianças entendam melhor isto. Ontem foi o dia dedicado a elas, que esta comunidade estende para esta celebração. Elas são a promessa de um outro mundo. Aos olhos das crianças tudo é possível: a realidade está em aberto, palpita de vida, sendo a cada momento descoberta, imaginada, criada. Nenhuma criança acreditaria num amor que fechasse os olhos ao que causa pobreza, desigualdade, e injustiça.