No próximo dia 19 de Dezembro, decorrem as Jornadas da Província Portuguesa da Ordem Dominicana, entre as 10h30 e as 16h, no Convento de São Domingos, em Lisboa. O tema é o recente Capítulo-Geral no Vietname. Ajudei na tradução das Actas do Capítulo-Geral para português e fui convidado a participar nestas Jornadas, mas infelizmente as aulas não me permitem. Que seja um encontro fértil.
Serviço ou Mando
Uma vida de serviço em vez de uma vida de mando: eis algo que parece cada vez uma extravagância, uma bizarria, eventualmente uma estupidez. Mas talvez tenha sido sempre olhado assim, sob este céu, neste mundo caído.
Union Activism as a Christian Mission
Here is my contribution for the Novenna - Extraordinary Missionary Month of the European Council of Lay Dominican Fraternities.
This novena on the occasion of the extraordinary missionary month is created to give the lay Dominicans in Europe the chance to perceive missionary projects of the order of preachers. These projects are run or supported by our lay Dominican brothers and sisters. As a novena it is also the chance to pray for more missionary activity and to support this projects in prayer.
Sobre os Votos dos Católicos
Sobre os votos dos católicos, vale a pena ler com atenção o artigo do P. João Manuel Silva, SJ, “Informar, Discernir, Decidir”. Destaco esta passagem:
O número 76 da Gaudium et Spes (GS) lembra-nos que a Igreja “de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado”. Pelo contrário, o Concílio Vaticano II apela à responsabilidade pessoal na formação da própria consciência, reconhecendo a pluralidade de opções políticas: “muitas vezes, a conceção cristã da vida incliná-los-á para determinada solução, em certas circunstâncias concretas. Outros fiéis, porém, com não menos sinceridade, pensarão diferentemente acerca do mesmo assunto, como tantas vezes acontece, e legitimamente.” (GS 43) O mesmo número relembra que “a ninguém é permitido, em tais casos, invocar exclusivamente a favor da própria opinião a autoridade da Igreja” e termina convidando ao esclarecimento mútuo “num diálogo sincero, salvaguardando a caridade recíproca e atendendo, antes de mais, ao bem comum.”
Fé, Consciência, Voto
Bombardeamento em Bagdade a 2 de Março de 2004 (Getty Images).
Saiu hoje um artigo de P. Gonçalo Portocarrero de Almada, “Razões de um católico que vota pela vida”, no Pontos SJ que menciona o artigo que escrevi para o mesmo portal, “Razões de um católico que vota à esquerda”.
Concordo com a ideia de que não é fácil encaixar a Doutrina Social da Igreja nas categorias de esquerda e direita, da mesma maneira que considero que o “ser de esquerda” necessita de ser qualificado e complementado. Foi o que tentei também fazer. Ao mesmo tempo, noto que não recebi contestações quanto às razões económicas e sociais que apontei para votar à esquerda, como já não tinha recebido dos mais ferozes críticos da minha publicação.
O que este novo texto invoca é a prioridade à dignidade humana, em particular a posição sobre o aborto e a eutanásia. Como escrevi no meu artigo anterior para o Pontos SJ, “A presença do Ressuscitado no mundo”: “É outra tentação, das tantas que nos cercam, olharmos para a política como uma tradução das nossas convicções religiosas ou para a religião como uma tradução das nossas ideias políticas.” Havendo relações de influência entre os termos, é pernicioso para a vida plural e complexa em sociedade confundir o religioso com o político e o moral com o legal.
Portocarrero de Almada escreve que “o actual líder de um partido dito da direita, também defende a eutanásia”, referindo-se ao PSD. Parece que só resta ao “fiel coerente” votar no CDS-PP.
Podemos reflectir sobre se as políticas desse partido não empurraram muitas mulheres para a decisão difícil e lancinante de interromper uma gravidez. Podemos meditar sobre se, sendo o aborto um mal indesmentível, o aborto clandestino não é um mal ao quadrado, um mal social que exigia uma resposta política em Portugal que essa força política se escusou a dar. Mas podemos também trazer à memória que na Assembleia da República o CDS-PP rejubilou com a Invasão do Iraque em 2003, a que o Papa e a Igreja, com os bispos dos EUA em destaque, se opuseram de forma clara precisamente invocando a dignidade humana. Trata-se aliás de um partido que apoia sistematicamente uma política internacional de guerra em vez de paz, feita de intervenções militares, operações de mercenários e terroristas, sanções económicas, embargos comerciais, que tem ceifado milhões de vidas. Infelizmente, a violência devastadora da guerra agressora não é chamada para as razões de um católico que vota pela vida.
Sem o CDS-PP como possibilidade, ou ficamos sem opções, ou afirmamos que há várias opções para um católico que reflicta sobre os princípios que derivam da sua fé e vote em consciência.
Clandestino, ma non troppo
Não estou habituado a estas investidas e quem me conhece sabe como a Igreja é uma parte fundamental da minha vida. Dentro da Ordem Dominicana, é conhecida a minha opção política e também a de outros católicos. Proclamamos e vivemos a mesma fé, mas por vezes temos divergências políticas que se conversam respeitosamente à mesa, partilhando o pão e o vinho, numa comunhão que as diferenças não podem destruir. As reacções ao meu artigo “Razões de um Católico que Vota à Esquerda”, publicado no Pontos SJ, foram maioritariamente positivas. Houve quem se tivesse revisto no que eu escrevi e também quem agradecesse a simples demonstração de pluralidade. Na semana passada tinha sido publicado um artigo semelhante no mesmo portal, “Legislativas em Portugal – Pontos de Reflexão para o Voto”, assinado por outro católico, Nuno Alvim, com uma posição política assumidamente de direita. A essa opinião ninguém reagiu de forma agressiva, embora a sua leitura deixe bem claro que o autor entende que outros católicos tenham outros alinhamentos políticos. No meu texto, o mesmo entendimento é explicitado logo no segundo parágrafo. José Tolentino Mendonça parece ter tido razão quando disse que os católicos à esquerda em Portugal estão “numa espécie de clandestinidade”. Como expliquei no início do artigo de opinião, nunca me tinha sentido assim. Mas acabei por me sentir neste episódio que gerou comentários, postagens, e até emails de um pequeno grupo muito sonoro, não para discutir as razões que apresentei para votar à esquerda, mas para repetir esta coisa espantosa e inquisitorial: que um católico não pode ser de esquerda, só pode ser de direita. Hoje, reflectindo sobre tudo isto, lembrei-me de um artigo de um irmão da Ordem, frei Bento Domingues, “Por Opção da Mulher”, aquando do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Razões de um Católico que Vota à Esquerda
Um pouco em cima da hora, foi-me pedido pelo Pontos SJ um artigo de opinião sobre as minhas razões para votar à esquerda. Foi publicado hoje e pode ser lido aqui.
A Política do Poeta
Miguel Marujo faz aqui a história do lado político do poeta que vai ser cardeal, José Tolentino Mendonça. Disse ele uma vez que “o catolicismo sem uma inscrição à esquerda perde uma potencialidade profética que lhe é absolutamente indispensável”.
Ponto Cardeal
Leio que José Tolentino Mendonça “chegou” a cardeal — assim, como se se tratasse de uma escalada. Julgo que o próprio não olha assim para esta nomeação. Cruzei-me com ele várias vezes e ele foi um dos oradores convidados da conferência Movement as Immobility: A Conference on Film and Christianity que organizei com a Rita Benis e a Filipa Rosário na Universidade de Lisboa em 2017. Nele encontrei sempre a mesma atitude abnegada de serviço, à margem do poder. Que continue a servir a Igreja e a humanidade, isto é, a fazer pulsar o desejo de futuro, através da cultura, do pensamento, do diálogo, e do encontro.
Verdades
É verdade que a Inquisição podia ter provocado mais mortes. É igualmente verdade que o padre Gonçalo Portocarrero de Almada podia escrever menos. Fiquemo-nos pela terrível realidade das pessoas que a Inquisição enviou para a execução e dos textos deste sacerdote que bradam aos céus.
A Presença do Ressuscitado no Mundo
Foi publicada ontem a minha terceira contribuição para o Pontos SJ. Pode ser lida aqui. O tema é o compromisso dominicano com a justiça e a paz, a propósito do recente Capítulo Geral da Ordem dos Pregadores que teve lugar entre os dias 8 de Julho e 4 de Agosto, em Biên Hoà, Vietname.
Das Garras do Abismo
Lembra-te que é breve a minha existência!
Foi para isto que criaste os seres humanos?
Quem poderá viver sem ver a morte?
Quem se poderá livrar das garras do abismo?— Salmo 89, 48-49
Memórias de São Domingos
É o dia da memória litúrgica dele e da nossa memória do que somos. Recupero uma publicação do ano passado do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura:
Funda uma ordem que tem como finalidade a salvação das almas mediante a pregação que brota da contemplação. Na sua congregação têm grande importância o estudo, a vida litúrgica, a vida comum e a pobreza evangélica.
Os Nomes da Diferença
O meu segundo artigo para o Pontos SJ foi publicado hoje e pode ser lido aqui. É sobre as pessoas LGBTI dentro e fora da Igreja.
A Presença da Ordem em Abrantes
O Laicado Dominicano de Abril/Maio de 2019 inclui uma reportagem minha sobre o Passeio da Família Dominicana deste ano à cidade de Abrantes.
Vigília
Passio Christi
Ceia
Jacopo Tintoretto, A Última Ceia (1592-94).
Cantemos com alegria
A grande solenidade,
Brotem do fundo da alma
Cânticos de piedade.
Desapareça o que é velho,
Tudo seja novo em nós:
As obras e os corações,
O grito da nossa voz.Neste dia recordamos
Aquela noite de luz,
Em que, na Última Ceia,
Aos seus irmãos deu Jesus
O cordeiro e o pão ázimo
Segundo os ritos legais
Que o Senhor na antiga lei
Ensinara a nossos pais.Aos fracos e esfomeados
Deu o seu Corpo a comer,
E aos tristes, fonte de vida,
Deu o seu Sangue a beber,
Dizendo-lhes: Recebei
Este cálix que Eu vos dou,
Bebei todos deste Sangue
Que do meu peito jorrou.Assim Ele Instituiu
O sacrifício do altar,
Dando só aos sacerdotes
O poder de consagrar;
Aos seus ministros compete
Tomar seu Corpo nas mãos,
Comungá-lo e reparti-lo
Por todos os seus irmãos.Pão dos Anjos, Pão do Céu,
Feito pão das criaturas,
Ó celeste Pão divino
Que vens pôr termo às figuras!
Oh maravilha! O escravo,
O humilde, o pobrezinho,
Come o Corpo do Senhor,
Faz dele o Pão do caminho!Ó Divindade una e trina,
Vossos filhos Vos imploram:
Visitai os corações
Que prostrados Vos adoram;
E pelos vossos caminhos,
Por onde os homens chamais,
Levai-nos à luz eterna,
Aonde Vós habitais.— S. TOMÁS DE AQUINO, OP, “Sacris Solemniis”
Cristo Vivo, Cristo Morto
O Papa Francisco diz que Cristo está vivo na exortação apostólica dirigida à juventude que foi publicada hoje. Alguns padres católicos polacos dizem que Cristo está morto quando abençoam a queima de livros. Nada de novo, portanto.
Ferrugem e Clamor
O meu primeiro artigo para o Pontos SJ está online e pode ser lido aqui. Do meu ponto de vista, o propósito desta colaboração será pregar o bem comum. Agradeço o convite do João Manuel e estendo o agradecimento a toda a equipa deste excelente projecto da Província Portuguesa dos Jesuítas. Dedico o artigo à Deolinda Machado, sindicalista católica e membro de longa data da Comissão Executiva da CGTP-IN.
Frei Bernardo Domingues: Alegria Transbordante
Não tenho imagens, mas tenho algumas palavras. O funeral do Frei Bernardo Domingues decorreu hoje à tarde na Igreja do Convento do Cristo-Rei, Porto, que também é a minha casa porque sou membro da Fraternidade Leiga de São Domingos aí sediada. Fomos muitos e muitas. Enchemos a igreja, a ponto de ser necessário encaminhar as pessoas para as galerias superiores. Tanta gente que se cruzou com ele em diversas momentos marcantes na paróquia, na escola, na universidade, na família dominicana, na vida. Foi, por isso, um tempo de revisão, de reencontro, e de olhar esperançoso para o futuro motivado pela ocasião. A homilia do irmão, Frei Bento Domingues, sob o signo da misericórdia de Deus e da humanidade, deu um tom intensamente alegre a esta “celebração de passagem” (como o próprio Frei Bernardo lhe chamou há 7 anos) que se manteve até à conclusão. Em vez de lamentarmos, agradecemos. Agradecemos uma vida incansável ao serviço do bem comum que não nos deixa descansar. Celebrámos a alegria do Evangelho, a alegria de Cristo, a alegria da vida, a alegria da vida em Deus. Alegria transbordante. No fim descobrimos o princípio, quando a beleza do “Salve Regina”, cantado ao jeito dominicano, fez ecoar a plenitude: “Ora pro nobis sancta Dei Genetrix / Ut digni efficiamur promissionibus Christi. Amen.”