What has constrained me? Not my virtues, but only Your charity. May that same charity constrain You to illuminate the eye of my intellect with the light of faith, so that I may know and understand the truth which You have manifested to me.
— ST. CATHERINE OF SIENA, OP, The Dialogue
Just as it is better to illuminate than merely to shine, so to pass on what one has contemplated is better than merely to contemplate.
— ST. THOMAS AQUINAS, OP, Summa Theologica
Illuminate
On Faith
Faith is one of the most misunderstood concepts in religion. There is a difference between faith and blind faith and there is a connection between reason and faith, understood as belief and trust. As Augustine says, we are invited to faith.
These two videos by fr. Robert Barron discuss this topic in a clear and absorbing way. Fr. Barron lives in Chicago and received his doctorate in Theology from the Institut Catholique de Paris.
Denise Levertov, Poet of the Divine
I have already written about Carolyn Forché. Some time ago, I came across another outstanding female poet: Denise Levertov (1923-97). She was British, but moved to the United States after her marriage with American writer Mitchell Goodman in 1947. Her father was a Russian Hassidic Jew who became an Anglican priest. Denise was an agnostic for most of her life. Finally, she converted to Christianity in 1984 and five years later she became a catholic. Given this path, it is no surprise then that her poetry became the site where she expressed and liberated an ardent, subtle, evocative, and concrete vision of God (a powerful catholic vision, in short). Here is “Annunciation”, an apt poem one week after the Feast of the Immaculate Conception, presented in its original graphic form:
Hail, space for the uncontained God
— from the 6th Cent. Greek “Agathistos Hymn”We know the scene: the room, variously furnished,
almost always a lectern, a book; always
the tall lily.
Arrived on solemn grandeur of great wings,
the angelic ambassador, standing or hovering,
whom she acknowledges, a guest.
But we are told of meek obedience. No one mentions
courage.
The engendering Spirit
did not enter her without consent.
God waited.
She was free
to accept or to refuse, choice
integral to humanness.
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Aren’t there annunciations
of one sort or another
in most lives?
Some unwillingly
undertake great destinies,
enact them in sullen pride,
uncomprehending.
More often
those moments
when roads of light and storm
open from darkness in a man or woman,
are turned away from
in dread, in a wave of weakness, in despair
and with relief.
Ordinary lives continue.
God does not smite them.
But the gates close, the pathway vanishes.
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She had been a child who played, ate, slept
like any other child – but unlike others,
wept only for pity, laughed
in joy not triumph.
Compassion and intelligence
fused in her, indivisible.
Called to a destiny more momentous
than any in all of Time,
she did not quail,
only asked
a simple, “How can this be?”
and gravely, courteously,
took to heart the angel’s reply,
perceiving instantly
the astounding ministry she was offered:
to bear in her womb
Infinite weight and lightness; to carry
in hidden, finite inwardness,
nine months of Eternity; to contain
in slender vase of being,
the sum of power —
in narrow flesh,
the sum of light.
Then bring to birth,
push out into air, a Man-child
needing, like any other,
milk and love —but who was God.
Nos 500 anos do Sermão de Montesinos
A Ordem dos Pregadores propõe uma série de eventos em volta do conhecido sermão do frade dominicano António de Montesinos, que ficou na História como a primeira defesa dos direitos naturais e humanos dos índios americanos:
Foi no IV Domingo do Advento do ano de 1511 que na ilha de Santo Domingo de La Hispaniola, actual República Dominicana e Haiti, que Fr. António de Montesinos, em nome da Comunidade, prega um sermão em que defende os direitos dos índios:
Com que direito e com que justiça tendes estes índios em tão cruel e horrível servidão? Com que autoridade fizestes tão detestáveis guerras a estas gentes que estavam nas suas terras, mansas e pacíficas, onde consumistes um número infindável delas com mortes e estragos nunca ouvidos? Como é que os tendes tão oprimidos e esgotados, sem lhes dar de comer nem curar as suas doenças, que pelos excessivos trabalhos a que os sujeitais vos morrem, melhor será dizer, os matais, para arrancarem e, conseguirem ouro todos os dias. E que cuidado tendes em que sejam doutrinados e conheçam o seu Deus e criador, sejam baptizados, oiçam missa, guardem as festas e domingos? Estes não são homens? Não têm almas racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Não entendeis isto?
Este sermão, recolhido por fr. Bartolomeu de Las Casas, na sua História das Índias, tornou-se o grande testemunho de uma Igreja perto dos pobres e dos indefesos, abrindo uma dimensão profética da justiça e paz.
Nós, Dominicanos, iremos assinalar este acontecimento, quinhentos anos depois, nas mesmas datas litúrgicas e históricas, com as seguintes actividades:
17 Dez.:
Retiro de Advento (9:30-18:00), sob o tema por caminhos da justiça e da verdade. (inscrição até 15 Dez., 15 euros)
Tolentino Mendonça, “É pela Sede que se Aprende a Água?: O Paradoxal Caminho das Bem-Aventuranças”
Rui Grácio, OP, “O Sermão de Montesinos, Hoje, Aqui e Agora: Algumas Perguntas, Desafios e Tarefas”
18 Dez.:
Missa do IV Domingo do Advento (12:00), com a distribuição de uma cópia do Sermão de Montesinos.
19 Dez.
Exibição do filme También la lluvia (2010) (21:00), real. Icíar Bollaín, com Gael García Bernal, Luis Tosar e Karra Elejalde. (entrada livre)
21 Dez.:
Sermão de Montesinos (21:30), lido por Luís Miguel Cintra e complementado com o canto de peças gregorianas de Advento. (entrada livre)
Local: Convento de São Domingos, R. João de Freitas Branco 12, Lisboa
Informações: 210322300
沈黙
The title of this post reads Chinmoku, which means Silence. It is the name of a famous novel written by Shūsaku Endō (1923–96), published in 1966. Martin Scorsese is now adapting it to film. It is great news that Scorsese is returning to directly spiritual topics. Although we may say that his films are always about the struggles of the soul, as Shutter Island (2010) demonstrates, this kind of direct engagement has not happened since the late 1990s with Bringing Out the Dead (1999).
The book tells the story of a Portuguese Jesuit missionary, Sebastião Rodrigues (based on the historical figure Giuseppe Chiara), sent to Japan in the 17th century to aid the local Church and investigate reports that his mentor, Cristóvão Ferreira, has become an apostate. What he finds is open persecution and the Kakure Kirishitan (Hidden Christians), a modern term for the members of the Japanese Catholic Church who went underground after the Shimabara Rebellion in the 1630s. Written partly in the form of letters by the protagonist, the themes of the silence of God and of the trials of faith were informed by the author’s experience of religious discrimination in Japan, racism in France, and debilitating tuberculosis. The novel won the prestigious Tanizaki Prize. It is considered Endō's finest work.
Endō is one of the most celebrated writers of the Third Generation, so called because it was the third major group of writers to emerge after World War II. He wrote from the uncommon perspective of being both Japanese and a Catholic convert. Leith Morton, a scholar who has studied the image of Christ in Endō’s fiction, argues that his writings were dominated by a single theme: the belief in Christianity.
Quem Vigia o Vento Não Semeia (7):
O Amor Torna Deus Visível
A imitação de Deus é difícil: nós nunca amamos como Ele ama. Nunca ninguém viu Deus. [...] Conhecemos o amor de Deus se acreditamos no dom de Cristo ao mundo e se reconhecemos no pobre, no que sofre, no louco, no mal-amado a presença d’Ele. [...] O amor visibiliza Deus: só sabemos que amamos Deus se amamos os nossos irmãos.
[...] Uma comunidade não é um club, uma tribo mas um corpo que caminha. [...] Há graus de chegada ao mistério muito diversos: nós não estamos todos no mesmo patamar em nada, nem mesmo na fé. Ser fiel à comunidade é ser fiel à diversidade que a constitui, ao que nos é comum, aos serviços que exigem a nossa presença. A comunidade como fusão de corações e aleluias é um mito. A comunidade não é a fusão na unidade mas a comunhão na diversidade que é um dos frutos do Espírito. E a preocupação maior é não perder ninguém pelo caminho qualquer que seja o seu grau de fé ou de esperança.
[...] A fé começa quando, pela mão de Jesus, começamos a encontrar com confiança o nosso próprio ser e os mecanismos de defesa contra uma ou outra das quatro grandes angústias existenciais: a solidão, a imperfeição, o absurdo e a finitude. Porque em Deus encontramos a unidade original e a confiança radical: a vida. Aquilo que levou Jesus à morte foi que ele deixou de ter medo da morte como poder último. É o que mostra a ceia: entrega o seu corpo nas mãos dos seus discípulos (e perseguidores); enquanto eles fogem, Jesus rectifica a sua confiança em Deus diante da angústia que a morte representa.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “A Imitação de Deus”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia: (1) · (2) · (3) · (4) · (5) · (6)
Quem Vigia o Vento Não Semeia (6):
Para Lá do Que Se Imagina
[...] Ora, a vida, em cristianismo, é um movimento caracterizado pelo dom de si ou a “doação” sem porquê. O dom não é uma forma dissimulada de transacção comercial, mas o trabalho do desejo. O dom consiste em se deixar atrair para lá do que se imagina. É a nossa abertura à presença do outro.
[...] A fé, como o amor, não consiste nem em acreditar cegamente e sem razão nem em recitar o catecismo duma nova lei mas na decisão de acolher ou não aquilo que se oferece, a existência autêntica ou a recusa desta existência.
[...]
Ver não é rever mas adivinhar contornos, formas de habitar. É preciso manter atenção ao tempo, não quebrar a linha inseparável entre o céu e a terra.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Rosto e a Sua Sombra”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (5):
O Princípio do Acontecimento
Diz o poeta persa Farîd Uddîn Attâr: “Há uma diferença entre conhecer o caminho e caminhar”. O que é dizer que o conhecimento puramente teórico não basta, que a consciência deve comprometer-se num determinado número de experiências que constituem a sua educação ou a sua formação. São estas noções de experiência e de caminhada que são aqui essenciais. Não temos acesso à verdade, à felicidade ou à satisfação senão atravessando uma série de provas que são como momentos ou mediações através dos quais ela se confronta com a náusea e a exterioridade do mundo. Se toda a época e toda a cultura comportam um princípio de clausura, este princípio é sempre contrariado por um outro, o princípio do acontecimento.
Juntemo-nos ao salmista na lamentação em que se tornou a vinha. Ilumine-nos o Deus das vítimas, não o dos vencedores, da abertura, não da clausura. E que a sua paz guarde os nossos corações. Que haverá de mais precioso, de mais doce e mais gratuito?
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Filho e a Pedra”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (4):
O Julgamento Anula a Comunhão
[...] O julgamento que fazemos sobre os seres, as coisas e as situações é induzido muitas vezes por uma vontade própria. A vontade própria deixa-se orientar pela escolha, inconsciente muitas vezes, daquilo que é conforme àquilo que eu penso. Basta-lhe ter razão. Esse sentimento de ter razão deixa-se tomar pela verdade. Aí a armadilha.
A suspensão do julgamento—esse modo de não escolher imediatamente sob a pressão da inveja, da repulsa ou da lógica—abre no pensamento o abismo de uma diferença entre dois interlocutores ou dois pontos de vista. A unidade não se encontra nunca em função da comparação e da oposição que arrasta consigo a procura de dominação.
[...]
É a violência que colocais na balança, diz o Salmo 58. O julgamento desliza rapidamente do lugar em que devia manter-se. Como se o prazer absoluto fosse ter razão contra a verdade. A alegria e o sofrimento não se definem opondo-se: são modalidade de um único desejo que no sofrimento se manifesta negativamente e na alegria positivamente. Deus revela-se na proximidade da origem, a comunhão, que permite reconhecer-me nos outros e aos outros se reconhecerem nele.
O desejo é a dimensão essencial da fé. A idolatria consiste em apropriar-se de uma ou de representações tidas por Deus em vez de confessar a presença de Deus na Assembleia dos homens—e isso é a fé.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Abraão - Exeunt as Representações”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (3):
Dor e Amor
O cristianismo não produziu um saber propriamente falado sobre as origens e as transformações destes estados [nascimento, separação, frustração, falhas diversas—variantes do sofrimento] mas evidenciou-o em descrições de uma fineza inigualável, nos místicos sobretudo. O cristianismo diz-nos que o sofrimento humano é partilhável. Esta é a primeira revolução do cristianismo. Cristo, ao assumir o sofrimento, confere-lhe uma dignidade nunca vista; o sofrimento é igualmente partilhável entre os humanos que têm de o olhar em face, nomeá-lo e interpretá-lo. [...]
Jesus vem perturbar a ordem do medo e da expulsão instalada, o dispositivo religioso. Jesus precipita o tempo e desmascara os dispositivos que tudo justificam. Está próximo o Reino; é preciso que tudo se decida. A partir de Jesus, o mundo é um mundo em devir, orientado para o Bem, abençoado. Jesus diz que o sofrimento é inerente à reconciliação do humano e do divino. Não é imposto do exterior. O homem cristão é um homem de dor e de amor.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “O Milagre de Existir”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia (2):
A Surpresa de Deus
Só a crença na presença de Deus na nossa vida altera o que sabemos de nós e do mundo. Deus, ao encarnar, tornou-se um de nós. Não imitamos Deus fugindo do mundo e de nós, com paliativos e denegações. Deus fez o contrário (Hino [Cristológico] aos Filipenses [Fl 2,6-11]). Jesus escolheu a morte, isto é, deu-lhe um sentido: nenhum bode salva. A morte de Jesus situa-se na continuidade dos crimes de Abel e dos profetas. O que há de singular na morte de Cristo não é o modo como morre mas que, em vez de se terminar por uma sacralização de bode expiatório, acabe por uma dessacralização de qualquer sistema. Só a Cruz nos surpreende, nos arranca à mundanização de Deus: Deus vem de Deus.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Festa dos Ramos”
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Quem Vigia o Vento Não Semeia: (1)
Quem Vigia o Vento Não Semeia (1):
O Espectador e o Crente
Nós somos espectadores do mundo e produtores das aparições deste mundo e de todo um outro mundo. A condição do espectador é a de um sujeito que está continuamente a mudar de lugar. O olhar do espectador (e do crente) é movimento se ele quer escapar à paralisia da morte. Assim o diz a experiência das mulheres naquela manhã, assim o diz a nossa experiência de crentes, obrigados que estamos a uma verdadeira hermenêutica da reminiscência que só post factum Resurrectionis se cumpre, obrigados que estamos ao testemunho: afinal, os únicos testemunhos de Deus somos nós. Nós somos os iniciados duma passagem com um fim à vista.
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Este é o Jardim que a Ausência Permite”
Communio
At the centre of Christianity is community; we are gathered by the Lord around the altar.
— TIMOTHY RADCLIFFE, OP
Apelo ao Fim da Pena de Morte
O Papa Bento XVI lançou ontem um apelo ao mundo para a eliminação da pena de morte:
Espero que as vossas deliberações encorajem as iniciativas legislativas e políticas que estão a ser promovidas num número crescente de países para eliminar a pena de morte e continuar o progresso substancial feito para tornar a lei penal conforme à dignidade humana dos prisioneiros e à manutenção efectiva da ordem pública.
Bento XVI falava numa audiência pública no Vaticano, a propósito da iniciativa contra a pena capital intitulada No Justice Without Life (Não Há Justiça Sem Vida), que reuniu delegações de vários países.
Sobre o Amor
Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.
— 1Jo 4,16
Onde existe o Amor existe a Trindade: um que ama, um que é amado e uma fonte de amor.
— S. AGOSTINHO
Temos de conhecer as pessoas e as coisas humanas para as amar. Temos de amar a Deus e as coisas divinas para as conhecer.
— BLAISE PASCAL
A medida do amor é amar sem medida.
— S. FRANCISCO DE SALES, OFMCap
O amor é a alegria pelo bem; o bem é o único fundamento do amor. Amar significa querer fazer bem a alguém.
— S. TOMÁS DE AQUINO, OP
Ethics as Fulfilment
If we continue to read this Gospel passage attentively, we also find a second imperative: “abide”, and “observe my commandments”. “Observe” only comes second. “Abide” comes first, at the ontological level, namely that we are united with him, he has given himself to us beforehand and has already given us his love, the fruit. It is not we who must produce the abundant fruit; Christianity is not moralism. It is not we who must do all that God expects of the world but we must first of all enter this ontological mystery: God gives himself. His being, his loving, precedes our action and, in the context of his Body, in the context of being in him, being identified with him and ennobled with his Blood, we too can act with Christ.
Ethics are a consequence of being: first the Lord gives us new life, this is the great gift. Being precedes action and from this being action then follows, as an organic reality, for we can also be what we are in our activity.
— BENEDICT XVI, “Lectio Divina”, 12 Feb. 2010
Jesus Christ, Love Incarnate
What moved you, infinite God, to enlighten me, your finite creature, with the light of your truth? You yourself, the very fire of love, you yourself are the reason. [...] What was the reason for this? Love. For you loved us before we existed. O good, O eternal greatness, you made yourself lowly and small to make us great!
— ST. CATHERINE OF SIENA, OP, The Dialogue
Thank You
If the only prayer you ever say in your entire life is thank you, it will be enough.
— MEISTER ECKHART, OP
Vem Santo Espírito
Vem réstea de sol
esclarece os desvairos da noite
e o fogo que corre sem freio.Vem defensor do pobre
vem sinal rumoroso da voz
que move o mundo.Vem memória d’água
barqueiro do nosso olhar
entre a luz e o seu véu.Vem testemunha da dor
e da angústia sem nome
vem força da vida.Vem clamor da noite cega
luz cinzenta que borda o mar
vem jardim dos olhos.— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Veni Sancte Spiritus”
A New Humanity
Christ is present to us in so far as we are present to each other. We are born with a constitutional inability to live together in love; we achieve a precarious unity only with great difficulty and for a short time; there is a flaw in the very flesh we have inherited which makes for division between us. The very thing that should make us one, the fact that we come into existence as members of one family, is the source of our isolation.
— HERBERT MCCABE, OP, The New Creation
Saciada, a Alma Permanece Faminta
Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade, que, pela união com a natureza divina, tanto fizestes valer o Sangue de vosso Filho Unigénito! Vós, Trindade eterna, sois como um mar profundo, no qual quanto mais procuro mais encontro, e quanto mais encontro, mais cresce a sede de Vos procurar. Saciais a alma, mas dum modo insaciável, porque, saciando-se no vosso abismo, a alma permanece sempre faminta e sedenta de Vós, ó Trindade eterna, desejando ver-Vos com a luz da vossa luz.
Saboreei e vi com a luz da inteligência, ilustrada na vossa luz, o vosso abismo insondável, ó Trindade eterna, e a beleza da vossa criatura. Por isso, vendo-me em Vós, vi que sou imagem vossa por aquela inteligência que me é dada como participação do vosso poder, ó Pai eterno, e também da vossa sabedoria, que é apropriada ao vosso Filho Unigénito. E o Espírito Santo, que procede de Vós e do vosso Filho, me deu a vontade com que posso amar-Vos.
Porque Vós, Trindade eterna, sois criador e eu criatura; e conheci — porque Vós mo fizestes compreender quando me criastes de novo no Sangue do vosso Filho — conheci que estais enamorado da beleza da vossa criatura.
Oh abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais me podíeis dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que dissipa toda a frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade.
Espelhando-me nesta luz, conheço-Vos como sumo bem, o bem que está acima de todo o bem, o bem feliz, o bem incompreensível, o bem inestimável, a beleza sobre toda a beleza, a sabedoria sobre toda a sabedoria: porque Vós sois a própria sabedoria, o alimento dos Anjos, que com o fogo da caridade Vos destes aos homens.
Sois a veste que cobre toda a minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna!
— S. CATARINA DE SENA, OP, O Diálogo
Sabedoria
Hoje, numa celebração eucarística dominicana em Fátima fui convidado a fazer a primeira leitura. As palavras irradiantes vinham do livro da Sabedoria (6,12-16):
Radiante e inalterável é a sabedoria;
facilmente se deixa ver por aqueles que a amam,
e encontrar por aqueles que a buscam.
Antecipa-se a manifestar-se aos que a desejam.
Quem por ela madruga não se cansará:
há-de encontrá-la sentada à sua porta.
Meditar nela é prudência consumada,
e aquele que não dorme por causa dela
depressa estará livre de inquietação.
Pois ela própria vai à procura dos que são dignos dela,
pelos caminhos lhes aparece com benevolência
e vai ao encontro deles, em cada um dos seus pensamentos.
Rosamundi
Rosamundi’s Ramblings é um dos blogues que leio regularmente. É escrito por uma leiga dominicana de Londres. Em dois textos, ela fala sobre a sua vida como dominicana com a mesma despretensão com que escreve sobre tudo. No primeiro, explica porque é que se tornou leiga dominicana:
It is said of our founder, St. Dominic, that he spent all his time talking to people about God, and talking to God about people.
We are all Dominicans, with the same charism (mission), but different ways of following that. We all strive to live by the four pillars of Dominican life, prayer, community, study and preaching; but according to our state in life — a Dominican friar will express the charism differently to a cloistered nun, who will express it differently to an apostolic sister, who will again be different to a lay Dominican.
O segundo texto desenvolve o primeiro, esclarecendo porque é que, não gostando ela de discursar, se juntou à Ordem dos Pregadores:
Study, reading and writing have always been important to me. I’m not so keen on the “public speaking” bit of preaching, but there are more ways of preaching than talking to people — writing, teaching catechism classes, answering colleagues’ strange questions on obscure points of doctrine before I’ve had my morning coffee. I think my finest hour was explaining Purgatory in fewer than 140 characters on Twitter. And nerves about public speaking will lessen with time and practice — I was less nervous leading the study than I was the first time I did, for example.
Laudare, Benedicere, Praedicare
O lema principal da Ordem dos Pregadores é “Laudare, Benedicere, Praedicare” (“Louvar, Bendizer, Pregar”). Outro lema associado à ordem é “Contemplari et Contemplata Aliis Tradere” (“Contemplar e Transmitir os Frutos da Contemplação”). A palavra que melhor resume o compromisso da ordem é “Veritas” (“Verdade”). Se quisermos ser sucintos, a vida da família dominicana envolve a oração, a gratidão, o estudo, e a partilha (ou a prática do amor) colocando a verdade no seu centro.
OP
A Ordem dos Pregadores é constituída por frades, monjas, irmãs, e laicado (homens e mulheres). Qualquer membro da ordem pode usar OP (Ordo Praedicatorum) à frente do seu nome. Noutras ordens, os grupos dentro da ordem ostentam diferentes designações — por exemplo, um leigo da Ordem Franciscana Secular usa OFS (Ordo Franciscanus Saecularis) e um religioso da Ordem dos Frades Menores usa OFM (Ordo Fratrum Minorum), mas são ambos franciscanos. A família dominicana tem a particularidade de traduzir a sua unidade e igualdade internas numa só sigla.
O Reino
Um falecimento recente fez-me pensar numa frase do escritor francês Georges Bernanos, autor de Le journal d’un curé de campagne (Diário de um Pároco de Aldeia) que Robert Bresson transformou em filme. Escreve ele: “Não existem dois reinos separados, um para os vivos e um para os mortos. Há apenas o reino de Deus e, vivos ou mortos, estamos todos nele.”
The Disquiet of Faith
The reason, again, why the soul not only travels securely, when it travels thus in the darkness, but also achieves even greater gain and progress, is that usually, when the soul is receiving fresh advantage and profit, this comes by a way that it least understands — indeed, it quite commonly believes that it is losing ground. For, as it has never experienced that new feeling which drives it forth and dazzles it and makes it depart recklessly from its former way of life, it thinks itself to be losing ground rather than gaining and progressing, since it sees that it is losing with respect to that which it knew and enjoyed, and is going by a way which it knows not and wherein it finds no enjoyment. It is like the traveller, who, in order to go to new and unknown lands, takes new roads, unknown and untried, and journeys unguided by his past experience, but doubtingly and according to what others say. It is clear that such a man could not reach new countries, or add to his past experience, if he went not along new and unknown roads and abandoned those which were known to him. Exactly so, one who is learning fresh details concerning any office or art always proceeds in darkness, and receives no guidance from his original knowledge, for if he left not that behind he would get no farther nor make any progress; and in the same way, when the soul is making most progress, it is travelling in darkness, knowing naught. Wherefore, since God, as we have said, is the Master and Guide of this blind soul, it may well and truly rejoice, once it has learned to understand this, and say: “In darkness and secure.”[1]
These are the words of one of the greatest mystics in Christian history, St. John of the Cross.[2] In his treatise Dark Night of the Soul, he describes the dark battles of the soul. His is an extreme example. It shows us that the deepest commitment to Christ and the total offering of one’s life to God is ultimately a safe path, but not a quiet one. His words describe the disquiet of faith with joyful intensity.
Tomáš Halík, the autor of the spiritually vibrant Patience with God,[3] has been reflecting on perseverance as a response to the silence and hiddenness of God, establishing and exploring a common ground between believers and unbelievers. With St. John on his mind, he suggests that the seeming absence of God may be seen as an opportunity for us to better understand our presence in the world and the demands that this presence entails:
The mystics have written much about the importance of the dark nights of the faith, of the experience of the inner desert, of the silence of God, and this experience is always the chance to go deeper and to be more matured in our faith, perhaps to lose the religious illusions and to be confronted with the naked faith. And I think there are not only those individual dark nights of the soul, but also the collective ones. The 20th century was full of dark nights of the hidden God. Where was God in Auschwitz and the Holocaust? I think the right question is: where was man in the Holocaust? The rabbi of Britain, Jonathan Sacks, said that the right answer is that God was in His commandment “You shall not kill”. He gave us freedom, He gave us our commandments, so it is our responsibility. I think when we are confronted with the hidden God, there are three possibilities how to answer this mystery, and they are faith, hope and love.[4]
The Gospel of Mark narrates the episode of a desperate father who seeks a cure for his son’s afflictions and comes to Jesus for help. The event is also recounted in the other synoptic gospels, Matthew (17:14-21) and Luke (9:37-43). In Mark, the father phrases the request as if he is talking about a mere possibility, leaving it open whether or not Jesus is able to help him. Jesus’s reply is not to assert his power, but to talk about about the power of faith — that is, about the child’s father. There is a shift. The father puts everything in Jesus’s hands and is hesitant. Jesus does not feel insulted by his hesitancy and makes him see the connection between faith and determination. Then the text adds: “Then the boy’s father cried out, ‘I do believe, help my unbelief!’” (9:24).
“I do believe, help my unbelief!’” This statement and this request reflect an acknowledgement that is equivalent to a change. Because of Jesus’s humility and selflessness, the father feels safe enough to fully acknowledge his condition. Believing is not forgoing unbelief. Being a believer is solely choosing to live in hope, choosing to be open to the guiding love of God that Christ announced. In this sense, it is also to be aware of this choice — and therefore to be conscious of the alternatives. Faith involves knowledge and trust in an urgent impulse that takes the form of a leap, not in the dark, but through the dark. The faithful walks across the abyss of incredulity every day, not shying away from it. The father turns to Jesus declaring that he believes and that he needs him to give him strength. How much of our strength is not born of the contagious strength we see in others? More than the content of faith, the credo, it is the recognition of our weakness (of our need of the other who is not me) as well as the power of our faith (of our agreement with God as revealed in Christ) that make up the cornerstone of our belief. Pope Benedict XVI reminded us of this fundamental point when he said in an homily on the Ascension that “[w]hat we believe is important, but even more important is the One in whom we believe.”[5] Almost 40 years before, Joseph Ratzinger had written these all-embracing remarks that bring together believers and unbelievers in their quest for a meaningful, fulfilling life:
Just as the believer knows himself to be constantly threatened by unbelief, which he must experience as a continual temptation, so for the unbeliever faith remains a temptation and a threat to his apparently permanently closed world. In short, there is no escape from the dilemma of being a man. Anyone who makes up his mind to evade the uncertainty of belief will have to experience the uncertainty of unbelief, which can never finally eliminate for certain the possibility that belief may after all be the truth. It is not until belief is rejected that its unrejectability becomes evident.
[...]
In other words, both the believer and the unbeliever share, each in his own way, doubt and belief, if they do not hide away from themselves and from the truth of their being. Neither can quite escape either doubt or belief; for the one, faith is present against doubt, for the other through doubt and in the form of doubt. It is the basic pattern of man’s destiny only to be allowed to find the finality of his existence in this unceasing rivalry between doubt and belief, temptation and certainty. Perhaps in precisely this way doubt, which saves both sides from being shut up in their own worlds, could become the avenue of communication. It prevents both from enjoying complete self-satisfaction; it opens up the believer to the doubter and the doubter to the believer; for one it is his share in the fate of the unbeliever, for the other the form in which belief remains nevertheless a challenge to him.[6]
Ratzinger, now pope, and Halík believe that the Church is a place where the communication between believers and unbelievers can take place. The doors should be open. What unites the variety within the Church, what gives it its catholicity, its universality, is not belief as such. As in the beginning, it is a decisive encounter and transformative relationship with Jesus, whom many unbelievers admire. The episode told in Mark’s Gospel reveals that this personal bond of faithfulness between a believer and Jesus is disarming and humbling, cautioning us against the worship of idols. Theologians like Herbert McCabe have warned us about the temptation of turning God into an idol, something obvious and limited. Saying that Jesus Christ reveals the mystery of God as the Son on the one hand, does not mean that God is Jesus on the other hand. After all, Jesus’s revelation is of a tri-une God, a God of a mysterious, loving, internal, unitary relationship. Hence we may say that “God stands above singular and plural. He bursts both categories.”[7] God cannot be turned into an idol. The vain human attempts to do it only confirm that whatever the idol, idolatry is always, in the end, the worshipping of ourselves:
Orthodoxy is idolatry if it means holding the “correct opinions about God” — “fundamentalism” is the most extreme and salient example of such idolatry — but not if it means holding faith in the right way, that is, not holding it at all but being held by God, in love and service. Theology is idolatry if it means what we say about God instead of letting ourselves be addressed by what God has to say to us. Faith is idolatrous if it is rigidly self-certain but not if it is softened in the waters of “doubt”.[8] [9]
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[1] John of the Cross, OCD, Dark Night of the Soul, ed. and trans. E. Allison Peers, ch. XVI, par. 8, http://
www.ccel.org/ccel/john_cross/dark_night.toc.html.
[2] He reformed the Carmelite Order and founded the Discalced Carmelites together with his friend St. Teresa of Avila, another great mystic.
[3] Tomáš Halík, Patience with God: The Story of Zacchaeus Continuing in Us (New York: Doubleday Books, 2009).
[4] Frank Brennan, “Conversation with Tomáš Halík”, 1 Jun. 2011, http://mpegmedia.abc.net.au/rn/
podcast/2011/07/eer_20110703.mp3.
[5] Benedict XVI, “[Homily for] Mass at Błonie Park in Krakow”, 28 May 2006, par. 7, https://w2.vatican.va/
content/benedict-xvi/en/homilies/2006/documents/hf_ben-xvi_hom_20060528_krakow.html.
[6] Joseph Ratzinger, Introduction to Christianity, trans. J. R. Foster (San Francisco: Ignatius Press, 2004), 45-47.
[7] Ibid., 179.
[8] John D. Caputo, What Would Jesus Deconstruct?: The Good News of Postmodernism for the Church (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2007), 131.
[9] For F. (and her mother).
On the Execution of the Guilty
I received an email today from Dudley Sharp, a pro-death penalty activist. It is a response to the Catholic call to abolish the death penalty that I have signed. Sharp reviews what he thinks are the many errors of the petition. I suppose every signatory received this message. From what I could gather on the Internet and from the way he argues, I do not think that Dudley is Catholic. But I may be wrong.
He insists that Troy Davis was guilty. This is a point that advocates of the death penalty often make: that such a sentence must be given only beyond the shadow of a doubt, that is, it must be applied to persons who the court is sure that are guilty. This is a misguided point. Executing the guilty is still immoral. The guilt of the person does not make the execution morally right. This is a distorted view that confuses justice with punishment and retribution.
The Church does not hold that the guilt of the defendants justifies their execution. Instead, the correct establishment of the culpability of the defendant is simply a condition for us to consider if the death penalty is necessary. What can make it necessary? That it is the “only practicable way to defend the lives of human beings effectively against the aggressor”.[1] The Catechism continues:
If, instead, bloodless means are sufficient to defend against the aggressor and to protect the safety of persons, public authority should limit itself to such means, because they better correspond to the concrete conditions of the common good and are more in conformity to the dignity of the human person.[2]
In other words, the only argument for the death penalty considered by the Church does not have to do with the punishment of the guilty, but with prudence and protection. Such a penalty may only be based on a prudential judgment with the intention of keeping someone out of harm’s way. This position urges us to take the historical context into account, given that intentional killing is always morally wrong, even when it is done by the state. Since the 19th century, the modern prison system provides a non-lethal means that is sufficient to defend against aggressors and to protect the safety of persons.
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[1] Catechism of the Catholic Church, par. 2267, http://www.vatican.va/archive/ENG0015/__P7Z.HTM.
[2] Ibid.
Catholic Filmmakers
Here is a list of great Catholic filmmakers who deserve our admiration for their contribution to the art of cinema:
Alfred Hitchcock (UK)
Éric Rohmer (France)
Federico Fellini (Italy)
Frank Borzage (USA)
Frank Capra (USA)
Fritz Lang (Germany)
Georges Méliès (France)
Jean Cocteau (France)
Jean Renoir (France)
John Ford (USA)
Krzysztof Kieślowski (Poland)
Leo McCarey (USA)
Manoel de Oliveira (Portugal)
Martin Scorsese (USA)
Michael Cimino (USA)
Paul Thomas Anderson (USA)
Robert Bresson (France)
Roberto Rossellini (Italy)
Vincente Minnelli (USA)
Vittorio de Sica (Italy)
A Catholic Call to Abolish the Death Penalty
Among many groups, Catholics have been particularly energetic in campaigning for the abolition of the death penalty in the United States, with results in New Jersey (2007), New Mexico (2009), and Illinois (2011). I am very glad to be one of the signatories of a statement “A Catholic Call to Abolish the Death Penalty” written by Tobias L. Winright from Saint Louis University, a Jesuit institution. God bless him for doing this when Troy Davis was just recently executed by the State of Georgia. The petition is signed by renowned Catholic theologians and other Catholic scholars and it may be found in this page.
God’s Position Towards Me and My Standing Before God
In his recent visit to Germany, Benedict XVI addressed the Council of the Evangelical Church in the former Augustinian convent in Erfurt where Martin Luther studied theology and was ordained a priest. The complete text is available here. It is a truly ecumenical speech, one that does not forgo the Catholic conviction of the one who speaks while deeply engaging with Luther’s theological reflections:
“How do I receive the grace of God?” The fact that this question was the driving force of his whole life never ceases to make a deep impression on me. For who is actually concerned about this today — even among Christians? What does the question of God mean in our lives? In our preaching? Most people today, even Christians, set out from the presupposition that God is not fundamentally interested in our sins and virtues. He knows that we are all mere flesh. And insofar as people believe in an afterlife and a divine judgement at all, nearly everyone presumes for all practical purposes that God is bound to be magnanimous and that ultimately he mercifully overlooks our small failings. The question no longer troubles us. But are they really so small, our failings? Is not the world laid waste through the corruption of the great, but also of the small, who think only of their own advantage? Is it not laid waste through the power of drugs, which thrives on the one hand on greed and avarice, and on the other hand on the craving for pleasure of those who become addicted? Is the world not threatened by the growing readiness to use violence, frequently masking itself with claims to religious motivation? Could hunger and poverty so devastate parts of the world if love for God and godly love of neighbour — of his creatures, of men and women — were more alive in us? I could go on. No, evil is no small matter. Were we truly to place God at the centre of our lives, it could not be so powerful. The question: what is God’s position towards me, where do I stand before God? — Luther’s burning question must once more, doubtless in a new form, become our question too, not an academic question, but a real one. In my view, this is the first summons we should attend to in our encounter with Martin Luther. (par. 3)
Vaticano II: O Pós-Concílio
Vaticano II: O Pós-Concílio propõe um conjunto de três comunicações que reflectem sobre o marcante Concílio reunido entre 1962 e 1965:
Bento Domingues, OP, “Os Dominicanos no Concílio” (15 Set., em Lisboa; 21 Set., no Porto)
Francolino Gonçalves, OP, “A Dei Verbum” (16 Set., em Lisboa; 22 Set., no Porto)
Mateus Peres, OP e José Nunes, OP, “O Pós-Concílio: Memórias e Perspectivas” (17 Set., em Lisboa; 23 Set., no Porto)
Todos os eventos da iniciativa são às 17 horas. Serão acolhidos no Convento de São Domingos em Lisboa e no Centro Paroquial de Cristo-Rei no Porto. Deixo o texto de apresentação:
Para tudo há um horizonte de expectativa e um horizonte de decepção. As dissensões a propósito do Vaticano II não começam apenas quando se entra na interpretação dos textos. Há a questão da sua aplicação. O concílio criou grandes expectativas, do mesmo modo que o pós-concílio trouxe grandes decepções.
É afirmação corrente que a verdadeira recepção de Vaticano de facto ainda não começou. Um concílio é, de facto, um acontecimento extraordinário — um remédio indispensável com, por vezes, efeitos secundários indesejáveis — e não pode ser confundido com a vida da própria Igreja.
São sempre os herdeiros que se pronunciam sobre o legado deixado pelos outros. Há uma crítica ao Vaticano II que pretende que a torrente da modernidade terá submergido a escritura, os Padres e a liturgia, reduzindo-o a um messianismo terrestre.
“Para que avance, é decisivo encontrar uma garantia espiritual, não apenas para uma explicação anti-histórico-utópica do concílio, mas também para uma compreensão criativo-espiritual na unidade viva com a verdadeira Tradição.”
(Ratzinger 1973: 443)Em cena estão a hermenêutica da descontinuidade e da ruptura e a hermenêutica da reforma, identificados com os media e uma parte da teologia moderna; do outro lado, os bispos e o papa como os administradores legítimos do dom do Senhor.
Como se fez a recepção do Vaticano II em Portugal? Que energias, iniciativas, expectativas abriu?
My Experience of Prayers
[...] for if you knew, G., my experience of prayers, you would know everything [...]
— JACQUES DERRIDA, Circonfession
Quem Foi (É) Jesus Cristo?
Vai decorrer nos próximos dias 8 e 9 de Outubro, o colóquio Quem Foi (É) Jesus Cristo?, organizado pelo professor de filosofia e teólogo pe. Anselmo Borges, no Seminário da Boa Nova em Valadares:
Anselmo Borges (Universidade de Coimbra), “De Jesus a Jesus Cristo”
Xabier Pikaza (Universidade de Salamanca), “‘Uma Biografia (Impossível) de Jesus”
Antonio Piñero (Universidade Complutense de Madrid), “Jesus e a Gnose”
Juan Antonio Estrada (Universidade de Granada), “Jesus e Deus”
J. I. González-Faus (Faculdade de Teologia da Catalunha), “Jesus e o Dinheiro”
Paulo Rangel (Universidade Católica Portuguesa), “Jesus e a Política”
José María Castillo (Universidade de Granada), “Jesus e a Igreja”
Juan José Tamayo (Universidade Carlos III, Madrid), “Jesus e as Religiões”
Isabel Allegro de Magalhães (Universidade Nova de Lisboa), “Jesus e as Mulheres”
Andrés Torres Queiruga (Universidade de Santiago de Compostela), “Que Quer Dizer: ‘Ressuscitar dos Mortos’?”
Oração e Trabalho
Oro a Deus como se esperasse tudo d’Ele, mas trabalho como se Ele esperasse tudo de mim.
— S. TOMÁS DE AQUINO, OP
Proclamar a Comunidade
A primeira vez que li numa celebração eucarística foi no dia 4 de Setembro de 2010. Lembro-me como se fosse hoje. Estava na Sé Nova de Coimbra a meditar sobre os mistérios em silêncio, quando o sr. Rafael se aproximou de mim e me convidou para ler a primeira leitura do Antigo Testamento (do livro da Sabedoria) e o salmo.
Este convite vindo de alguém que não me conhecia, que me acolheu, foi comovente. Foi a demonstração cabal da dimensão comunitária da fé cristã, que se alarga com as viagens que fazemos, com as igrejas que visitamos, com os encontros que vão tecendo a nossa existência e fazendo a nossa história — a Igreja é sempre maior do que pensamos.
Entretanto, já li diversas vezes. Participar na Liturgia da Palavra como leitor é uma grande responsabilidade. Cabe-nos a nós proclamar a Palavra de Deus e nesse gesto proclamar a comunidade que é a Igreja, um corpo que lê, escuta, reflecte, responde, é atravessado e transformado pela vida das palavras, isto é, que encontra nelas a fonte de uma nova vida.
Saint Catherine of Siena, Doctor for the Church
[L]ove transforms one into what one loves.
— ST. CATHERINE OF SIENA, OP, The Dialogue
In a general audience in 2010, Benedict XVI said of Catherine of Siena:
Many put themselves at Catherine’s service and above all considered it a privilege to receive spiritual guidance from her. They called her “mother” because, as her spiritual children, they drew spiritual nourishment from her. Today too the Church receives great benefit from the exercise of spiritual motherhood by so many women, lay and consecrated, who nourish souls with thoughts of God, who strengthen the people’s faith and direct Christian life towards ever loftier peaks.[1]
Benedict XVI calls The Dialogue [of Divine Providence] “a masterpiece of spiritual literature”.[2] Many magisterial documents of the Holy See mention her, such as Mulieris Dignitatem, an apostolic letter by John Paul II on the dignity of women, or Sacramentum Caritatis, a post-synodal apostolic exhortation by Benedict XVI on the sacrament of the Eucharist.
François-Marie Léthel, a member of the Pontifical Academy Theology writes “Catherine was, together with Teresa de Ávila, the first woman to be declared a Doctor of the Church in 1970, yet the ecclesial reception of her doctorate is still not fully complete, especially in the world of academic theology.”[3] Despite the publication of Thomas McDermont’s study, Catherine of Siena: Spiritual Development in Her Life and Teaching,[4] where I first read Léthel’s passage, there is still a lot of work to do. Perhaps if more Christian theologians read her words, simply read them, they would be absorbed and transfigured by them and devote their time to the study of what she lovingly left for us — their love for God transformed into their love for Catherine and for her writings, given how her life and verbal expression mirror each other. She was declared a Doctor of the Church, that is, a theologian regarded as particularly authoritative. Yet, through her actions and works, she is also a Doctor for the Church, for a more united and devoted Church. A Church always yet to come, but that we are called to build in her company.
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[1] Benedict XVI, General Audience of 24 Nov. 2010, par. 11, http://www.vatican.va/holy_father/
benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20101124_en.html.
[2] Ibid., par. 7.
[3] François-Marie Léthel, OCD, “Preface to Emanuele Massimo Muso’s ‘Gesù dolce, Gesù amore: Il Cristo di Caterina da Siena’” (STD diss., Pontificium Institutum Spiritualitatis Teresianum, 2005), vi.
[4] Thomas McDermont, OP, Catherine of Siena: Spiritual Development in Her Life and Teaching (Mahwah, NJ: Paulist Press, 2008).
Deus Convida à Solenidade
Apenas sei que caminho como quem
É olhado, amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
— SOPHIA DE MELLO BREYNER, “Escuto”
Deus convida à solenidade. A solenidade deve ser entendida, não como afectação, um modo de dizer ou de fazer forçado, mas como entrega e atenção. A raiz da palavra é sollus, “inteiro”. Ser solene é assim estar inteiramente nas nossas acções. É por isso que Sophia de Mello Breyner liga a solenidade ao risco. Caminhamos sentindo que somos olhados, conhecidos, amados — e somos desafiados a arriscar devolver esse cuidado, esse amor, sem reservas.
Entrevista a José Augusto Mourão
Em 2003, Maria João Seixas entrevistou José Augusto Mourão. A entrevista está disponível na íntegra aqui. Guardo muitas palavras de uma conversa que nos interpela sem deixar de ser profundamente pessoal — palavras como estas:
Cristo não veio eliminar a Terra e impor o Céu. Cristo, e esse é o mistério da Encarnação, veio fazer a ponte entre dois mundos, sem abolir nenhum dos pólos que os erguem. Na homilia é disso que se deve dar testemunho. É preciso tornar a Palavra presente à vida, interactiva, mesmo quando se convida os fiéis a reflectir em silêncio sobre ela.
Hoje e Todos os Dias
Faz hoje um ano que eu e a F. celebrámos o sacramento do Matrimónio, que é entendido na Igreja como um sacramento de vocação (o outro é o sacramento da Ordem). É uma união que, na prática dos votos que professámos um ao outro, nos aproxima de Deus. Na altura, uma das passagens que escolhemos para leitura foi este cântico do amor de Paulo, o apóstolo arrependido, incluido na primeira carta aos Coríntios (13):
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
Deus Escondido
onde estás, Deus libertador,
que nos perguntam por ti e não te vemos?
Deus escondido, onde estás?
devemos procurar-te entre os destroços,
a cinza e as mãos cortadas como canas verdes,
ou à frente das batalhas,
entre os que caminham como o vento
e as folhas das plantas, sensíveis à luz,
entre os que vão de cabeça alta e regressam
da servidão do saco e do tijolo
os que acordados vêm,
os pés recentemente desatados,
a língua solta?
Deus escondido, onde moras?
devemos procurar-te entre os que fizeram o êxodo
e começaram a amar,
os que morrendo a si já ressuscitam
os que rompem as muralhas da pele e pedem água?
devemos procurar-te naqueles que sobem à montanha
para molhar as mãos de luz e transfigurar-se?
(na solidão dos montes apalparei a tua face?
na limpidez dos rios e nas palavras
com que que fizeste o mundo verei a tua mão correndo?)
onde devemos esperar-te, Deus da surpresa
e como nós trânsfuga?
Deus dos que não têm voz nem barcos
para na albufeira olhar a alma
a crescer como a sombra dos pinheiros
anoitece a alma e o rio,
Deus gratuito, onde estás?
devemos procurar-te na poesia e no canto,
no amor e na beleza,
na barraca e no lixo?
onde apareces, Deus amigo dos pobres,
onde te acharemos, Deus libertador?— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Deus Absconditus”
Prayerful Poetry
The silence of God is God.
— CAROLYN FORCHÉ, The Angel of History
I found Carolyn Forché’s poetry by chance. It was an exhilarating discovery — and I alluded to her book The Angel of History in a proposal for a conference paper on Roberto Rossellini’s cinema and Walter Benjamin’s philosophy of history. She is one of most distinguished American living poets also known for her humanitarian and social work. Forché has taught at Columbia University and other institutions and is the director of the Lannan Center for Poetics and Social Practice at Georgetown University. You can read some of her poems and essays here. This is one example of her poetic work, “Prayer”:
Begin again among the poorest, moments off, in another time time and place.
Belongings gathered in the last hour to be taken, visible invisible:
Tin spoon, teacup, tremble of tray, carpet hanging from sorrow’s balcony.
Say goodbye to everything. With a wave of your hand, gesture to all you have known.
Begin with bread torn from bread, beans given to the hungriest, a carcass of flies.
Take the polished stillness from a locked church, prayer notes left between stones.
Answer them and in your net hoist voices from the troubled hours.
Sleep only when the least among them sleeps, and then only until the birds.
Make the flat-bed truck your time and place. Make the least daily wage your value.
Language will rise then like language from the mouth of a still river. No one’s mouth.
Bring night to your imagingings. Bring the darkest passage of your holy book.
O Horizonte da Santidade
Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
— SOPHIA DE MELLO BREYNER, Retrato de Mónica
Contudo, fizemos da santidade uma coisa tão extraordinária, abstrata e inalcançável, que quase não ousamos falar dela. Muito menos no espaço público. De certa forma, habituámo-nos a olhar para a experiência cristã como que acontecendo a duas velocidades: o caminho heróico dos santos e a frágil estrada que é aquela de todos os outros, e por maior razão a nossa. Ora esta conceção de santidade não pode estar mais longe daquilo que a tradição cristã propõe, pela qual pugnou e pugna. O Concílio Vaticano II, por exemplo, deixa bem claro: a santidade é vocação mais inclusiva e comum. Mas é preciso entender de que falamos quando falamos de santidade.
Bastar-nos-ia certamente ler as bem-aventuranças. Jesus não diz que os bens aventurados são os outros, os que não estão ali. Jesus olha para a multidão e começa a dizer: “bem-aventurados vós os pobres”, “bem-aventurados vós os aflitos”, “bem-aventurados vós os misericordiosos”. O quê que isto quer dizer? Que são, no fundo, as nossas pobrezas, fragilidades, aflições, mansidões, procuras de justiça, sedes de verdade, a nossas buscas por um coração puro, que dão a substância da bem-aventurança, a matéria da santidade.
É naquilo que somos e fazemos, no mapa vulgaríssimo de quanto buscamos, na humilde e mesmo monótona geografia que nos situa, na pequena história que dia-a-dia protagonizamos que podemos ligar a terra e o céu. Falar de santidade em chave cristã passou a ser isso: acreditar que a humanidade do homem se tornou morada do divino de Deus.
— JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, “De Que Falamos Quando Falamos de Santidade”
O Claro Escuro do Teu Nome
Deus nas fronteiras deste mundo,
Deus que cruzamos como as sombras,
dá-nos um corpo de desejo
e um ouvido de começo,
fica connosco Deus que passas
e nossas mãos te larguem,
Deus confundido com a sede,
e as palavras que dizemos,
vem alterar o nossos corpo,
vem confundir a nossa fome,
Deus da palavra,
flor do vento,
manhã que vem em Jesus Cristo.Dê-te prazer o nosso canto,
Deus das manhãs azuis e rosa,
que o nosso corpo te anuncie qual fonte,
rio ou chaga aberta,
que nossas mãos persigam o teu passar escondido.Deus invisível para os olhos,
palavra solta, luz que passa,
é neste tempo que dizemos o claro escuro do teu nome,
onde é secreta a tua face e o teu passar adivinhado.— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Nas Fronteiras deste Mundo”
Vida Doce
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas
que passam por suas vidas.— CLARICE LISPECTOR, “O Sonho”
Church Fathers on the Demands of the Crisis
The Fathers of the Church are a group of remarkable bishops who have shaped the early Church. Their teachings, meditations, and theological insights are the basis for the centuries of Christian thought that followed.
Their influence persists today, but it is often unacknowledged and overlooked. They are not read enough — except for Augustine, and even him is sometimes read in second hand. So I propose three quotes that remind us of the demands that this financial crisis places on those who have much and live in abundance. Basil of Caesarea, a Greek father, and Ambrose of Milan, a Latin father, said the following in the 4th century. The two first paragraphs are from Basil. The third one is from Ambrose. Little has changed.
What keeps you from giving now? Isn’t the poor person there? Aren’t your own warehouses full? Isn’t the reward promised? The command is clear: the hungry person is dying now, the naked person is freezing now, the person in debt is beaten now — and you want to wait until tomorrow? “I’m not doing any harm”, you say. “I just want to keep what I own, that’s all.” You own! You are like someone who sits down in a theater and keeps everyone else away, saying that what is there for everyone’s use is your own [...]. If everyone took only what they needed and gave the rest to those in need, there would be no such thing as rich and poor. After all, didn’t you come into life naked, and won’t you return naked to the earth?
The bread in your cupboard belongs to the hungry person; the coat hanging unused in your closet belongs to the person who needs it; the shoes rotting in your closet belong to the person with no shoes; the money which you put in the bank belongs to the poor. You do wrong to everyone you could help, but fail to help.
The large rooms of which you are so proud are in fact your shame. They are big enough to hold crowds — and also big enough to shut out the voices of the poor [...]. There is your sister or brother, naked, crying! And you stand confused over the choice of an attractive floor covering.
Give Me Your Hand
God speaks to each of us as he makes us,
then walks with us silently out of the night.These are the words we dimly hear:
You, sent out beyond your recall,
go to the limits of your longing.
Embody me.Flare up like a flame
and make big shadows I can move in.Let everything happen to you: beauty and terror.
Just keep going. No feeling is final.
Don't let yourself lose me.Nearby is the country they call life.
You will know it by its seriousness.Give me your hand.
— RAINER MARIA RILKE, “Go to the Limits of Your Longing”
The Person at the Centre
Paul Williams’s The Unexpected Way: On Converting from Buddhism to Catholicism is an enthralling book. As a Catholic fascinated by Buddhism, but also perplexed by some of its claims and teachings, I was very interested in this account of conversion. Paul was a leading Tibetan Buddhist (a Buddhist community that is part of the larger school known as Mahāyāna). He taught Indian and Tibetan philosophy at the University of Bristol — he still does. He is a former director of the Centre for Buddhist Studies at the same institution and a former president of the UK Association for Buddhist Studies.
The volume chronicles the thoughts that led him to Christianity and he is able to articulate some aspects (about Buddhist and Catholic thought) in illuminating form. He is now a lay member of the Dominican Order, which makes sense given his interest in study. This is one of the most concise and insightful passages in the book, considering the Buddhist concept of rebirth and the vital value of each person and each life to Christinity:
[I]f the Buddhist position is correct, then unless we attain a state (such as nirvāṇa) where in some way or another our rebirth will not matter, our death in this life is actually, really, the death of us. Death will be the end for us. Traditionally, at least on the day to day level, Buddhists tend to obscure this fact in their choice of language by referring to “my rebirth”, and “concern for one’s future lives”. But actually any rebirth (say, as a cockroach in South America) would not be oneself, and there is a serious question therefore as to why one should care at all about “one’s” future rebirths. Of course, one Buddhist response would be to say that it is an example of the very egoism one is trying to escape to be concerned whether the rebirth will be oneself or not. But I am not sure that helps much. We tend to forget that the original direction of Buddhism was towards the overriding urgency of the need to escape from the cycle of rebirth. Rebirth, in Buddhism and in other early Indian systems of liberation, was seen as horrific. To point out that “my” rebirth involves among other things the destruction of everything that counts as me would have been seen simply as emphasising how horrible rebirth is, and the need to escape from it through spiritual liberation, nirvāṇa.
[...] In my essay [Altruism and Reality: Studies in the Philosophy of the Bodhicaryavatara (London: Routledge, 1997)] I range over a number of key Buddhist presuppositions that seem to me to be questionable. Thus I criticise the idea that the whole is simply a mental superimposition upon the parts. I attack the idea that the world of everyday life is a mental construct, and I argue that persons are not bundles, not constructs out of a series of evanescent mental and physical “parts”, but are rather prior to analysis into parts and presupposed in it. I criticise the idea of data like pains as conceptually prior to the person who possesses the pains, on the basis that pains necessarily involve subjects (“persons”, in the sense in which I use the term, which would include animals) and make no sense as free-floating.
The broad direction of my critique is in favour of what might be called some form of “commonsense realism”, and towards minimalising the role of subjectivity (our minds) in the construction of our world. I see the problem of solipsism (the world is no more than the product of my consciousness) as endemic in all of Buddhist thought. I also see the move towards subjectivity, reflected in a tendency towards privileging individual mental states such as sense data and feelings over “everyday objects”, as ethically and religiously problematic. I tend to favour some form of ethical objectivism. I argue that the Buddhist tendency to reduce persons to other impersonal data claimed to be more fundamental, far from making Buddhism more coherent as an ethical base, actually removes what I am now inclined to think of as a mainstay of coherent ethics. That mainstay is the primacy and irreducible uniqueness of the person.
Anyone familiar with Buddhist thought is able to see that in all of this I am attacking central presuppositions of the very direction Buddhism takes. Anyone familiar with Christian thought might also see here why I found Christianity intellectually tempting.[1]
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[1] Paul Williams, The Unexpected Way: On Converting from Buddhism to Catholicism (London: T&T Clark, 2002), 202-3. In some pages, he does not reach a conclusion about the importance of the mystical experiences that some Christian have had throughout the centuries. It seems clear however that he understands that such subjective experiences serve as intense articulations of shared doctrines and not as individual bases for them. One need only to read and comprehend how the Church has read, for example, Catherine of Siena’s The Dialogue to corroborate this.
Frei Fernando
Relembraram-me ontem de um livro que vi há uns tempos nos escaparates: Do Eu Solitário ao Nós Solidário: Deus, o Homem e o Mundo, registo de um diálogo entre o jornalista Joaquim Franco e fr. Fernando Ventura, um leigo e um religioso. Lembrei-me desta espantosa conversa com José Manuel Pureza (Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra) aquando do lançamento de Caim de José Saramago. Fernando é um Franciscano Capuchinho e esta ordem é responsável pela melhor e mais anotada tradução da Bíblia publicada em Portugal — uma Bíblia para quem quer estudar, meditar, e mergulhar na sua riqueza. Vale a pena ouvir com atenção aqui.
Tarde Vos Amei
Para o coração de F.
Tarde Vos amei, Ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei. Habitáveis longamente dentro de mim, e eis-me lá fora a procurar-Vos. Dispersava-me entre as formosuras que criastes. Estáveis já comigo, sem que eu estivesse convosco! Demorava-me naquilo que não existiria se não existisse por Vós. Até que rompestes minha surdez, chamando por mim com voz tão forte. Brilhastes, cintilastes, por dentro da minha cegueira. Exalastes perfume: respirei-o e desejei-Vos com todas as minhas forças. Saboreei-Vos, e agora padeço de fome, morro de sede. Tocastes-me, e, sem a Vossa paz, sei que nunca mais terei paz!— S. AGOSTINHO, Confissões
Acknowledgments
As I have previously suggested, Augustine initiates a turn to the inner as the necessary way to God. This suggests further that an acknowledgment of God, say as trust in his promise, goes via the self-revelation and confession; or otherwise put, the third-person employment of acknowledgement is inextricably connected to the first-person employment. This brings out the religious sense in the fact that to acknowledge (recognise) the infinite other demands that I reveal myself in responding to that other, but also, conversely, that to acknowledge (reveal, confess) hitherto hidden aspects of myself takes place in the face of the (infinite) other. This is confirmed in Cavell’s reading of Descartes’ argument for God’s existence, which he takes to be saying that “it would not be possible for my nature to be what it is, possessing the idea of God, unless God really existed”, and we could add, if God does exist, so do I.
— ESPEN DAHL, “On Acknowledgment and Cavell’s Unacknowledged Theological Voice”
The Unity of the Body of Christ
Pope Benedict VI’s homily for Corpus Christi, given last week for the celebration of the feast, is brilliant and illuminating. Clear, simple, wise, it talks about mystery and it immerses us into it and therefore into life, making us think about the value of actions and the significance of Holy Communion. This text remind us, in eloquent form, what is essential in the Christian faith. I quote the bit that Brett also quotes:
St. Augustine helps us to understand the dynamics of holy Communion when referring to a kind of vision he had, in which Jesus said to him: “I am the food of the mature: grow, then, and you shall eat me. You will not change me into yourself like bodily food; but you will be changed into me” (Confessions, VII, 10, 18). Therefore, while the bodily food is assimilated by the body and contributes to sustain it, the Eucharist is a different bread: We do not assimilate it, but it assimilates us to itself, so that we become conformed to Jesus Christ and members of his body, one with him. This is a decisive passage. Indeed, precisely because it is Christ who, in Eucharistic communion, transforms us into him, our individuality, in this encounter, is opened up, freed from its self-centeredness and placed in the Person of Jesus, who in turn is immersed in the Trinitarian communion. Thus, while the Eucharist unites us to Christ, we open ourselves to others making us members one of another: We are no longer divided, but one thing in him. Eucharistic communion unites me to the person next to me, and to the one with whom perhaps I might not even have a good relationship, but also to my brothers and sisters who are far away, in every corner of the world. Thus the deep sense of social presence of the Church is derived from the Eucharist, as evidenced by the great social saints, who have always been great Eucharistic souls. Those who recognize Jesus in the Blessed Sacrament, recognize their brother who suffers, who is hungry and thirsty, who is a stranger, naked, sick, imprisoned, and they are attentive to every person, committing themselves, in a concrete way, to those who are in need.
So from the gift of Christ’s love comes our special responsibility as Christians in building a cohesive, just and fraternal society. Especially in our time when globalization makes us increasingly dependent upon each other, Christianity can and must ensure that this unity will not be built without God, without true Love. This would give way to confusion and individualism, the oppression of some against others. The Gospel has always aimed at the unity of the human family, a unity not imposed from above, or by ideological or economic interests, but from a sense of responsibility toward each other, because we identify ourselves as members of the same body, the body of Christ, because we have learned and continually learn from the Sacrament of the Altar that communion, love is the path of true justice.
The Foundation of Universalism
But before faith came, we were kept under guard by the Law, locked up to wait for the faith which would eventually be revealed to us. So the Law was serving as a slave to look after us, to lead us to Christ, so that we could be justified by faith. But now that faith has come we are no longer under a slave looking after us; for all of you are the children of God, through faith, in Christ Jesus, since every one of you that has been baptised has been clothed in Christ. There can be neither Jew nor Greek, there can be neither slave nor freeman, there can be neither male nor female — for you are all one in Christ Jesus.
— PAUL, Gal 3:23-28
This is the reason why Paul, apostle of the nations, not only refuses to stigmatize differences and customs, but also undertakes to accommodate them so that the process of their subjective disqualification might pass through them, within them. It is in fact the search for new differences, new particularities to which the universal might be exposed, that leads Paul beyond the evental site properly speaking (the Jewish site) and encourages him to displace the experience historically, geographically, ontologically. Whence a highly characteristic militant tonality, combining the appropriation of particularities with the immutability of principles, the empirical existence of differences with the essential nonexistence, according to a succession of problems requiring resolution, rather than through an amorphous synthesis. The text is charged with a remarkable intensity:
For though I am free from all men, I have made myself a slave to all, that I might win the more. To the Jews I became as a Jew, in order to win the Jews; to those under the law, I became as one under the Law — though not being myself under the Law — that I might win those under the Law. To those outside the Law I became as one outside the Law — not being without law toward God but under the law of Christ — that I might win those outside the Law. To the weak I became weak, that I might win the weak. I have become all things to all men. (1Cor 9:19-22)
— ALAIN BADIOU, Saint Paul
Vida Obstinada, Fé Querente
O obstinado é aquele que continua a fazer o que faz mesmo quando tudo parece demonstrar que não o pode fazer. No plano cognitivo esta atitude exprime-se deste modo: “Não podemos mais fazer isso”, mas continuamos a fazê-lo, contra ventos e marés. A obstinação traduz-se modalmente assim: “não posso, mas faço-o”. Como se vê, a modalidade dominante é aqui a do querer. O obstinado sabe que, no plano cognitivo tal é impossível, sabe que no plano do desejo quer o impossível. Catarina de Siena não tinha outro verbo a que se arrimar: “Io voglio” (“Eu quero”).
— JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “A Guerra dos Paradigmas”
Present Future
The past is the present, isn’t it? It’s the future too.
— EUGENE O’NEILL, Long Day’s Journey Into Night
On Reading the Koran
Lesley Hazleton, an award-winning British-American writer who writes on politics, religion, and history, presented this talk at TED (Technology Entertainment and Design), the global set of conferences coordinated by the private non-profit organisation Sapling Foundation, formed to disseminate “ideas worth spreading”. She calls herself an “accidental theologian” and is the author of Mary: A Flesh-and-Blood Biography of the Virgin Mother (London: Bloomsbury, 2004). In this presentation, she discusses the adventure of really reading the Koran, with openness and without thinking that we already know what we are going to find. Given the events of the last decade, Islam has been the most caricatured religion in the world — and it is true that, as it happens in other religions, it is precisely some of its adherents who distort its teachings and oversimplify its beliefs.
O Voto Católico Bom e Mau
O meu amigo António Marujo, premiado jornalista de assuntos religiosos do jornal Público, assinou um belo artigo sobre o(s) voto(s) católico(s). Pode ser lido aqui.
Deus e Caravaggio
Carlos Vidal (Faculdade de Belas-Artes - Universidade de Lisboa), crítico, artista, uma das vozes mais estimulantes e impertinentes no pensamento da arte em Portugal, lança na semana que vem o livro Deus e Caravaggio, uma edição Vendaval.
Um Deus que Dança
Da notícia da Agência Ecclesia:
Um Deus que Dança: Itinerários para a Oração é o novo livro do padre José Tolentino Mendonça, que vai ser lançado em Lisboa a 7 de junho.O volume constitui “um caso particular” nas obras do diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, dado que “o seu conteúdo não foi pensado, originalmente, para ser lido, mas para ser escutado”, sublinham os responsáveis pela edição em nota enviada hoje [...].
A primeira parte do volume, intitulada ‘Livro das Pausas’, é constituída por meditações inspiradas em textos bíblicos, lidas no site www.passo-a-rezar.net pelos atores Pedro Granger e Susana Arrais, cujas locuções podem ser ouvidas no CD que acompanha o livro.
A obra, com prefácio do encenador Luís Miguel Cintra e ilustrações do arquiteto e padre jesuíta João Norton, oferece no segundo capítulo, designado ‘Livro dos Andamentos’, “orações poéticas” lidas aos microfones da Rádio Renascença.
“Acredito num Deus que dança”, “imiscuído, engajado, detetável até pelo impreciso radar dos sentidos, suscetível de ser invocado pelos motores de busca das nossas persistentes interrogações ou do nosso silêncio”, escreve o autor na introdução.
Para o poeta e biblista, as palavras, “por pobres que sejam, constituem pontes de corda lançadas sobre a amplidão do mistério”, e nelas se perscruta o “assobio que anuncia os passos do viandante que chega ou que parte”.
O professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa sublinha que “a oração não se constrói de palavras, mas de relação”, pelo que o “mais importante” é a “celebração de um encontro”.
A sessão de lançamento do livro realiza-se às 18h00, no espaço da companhia Olga Roriz, com a presença de José Tolentino Mendonça, Luís Miguel Cintra e João Norton.
Be!
The highest manifestation of life consists in this: that a being governs its own actions. A thing which is always subject to the direction of another is somewhat of a dead thing.
— ST. THOMAS AQUINAS, OP
Each of us has a soul, but we forget to value it. We don’t remember that we are creatures made in the image of God. We don’t understand the great secrets hidden inside of us.
— ST. TERESA OF JESUS, OCD
If you are what you should be, you will set the whole world ablaze.
— ST. CATHERINE OF SIENA, OP
In Memoriam, José Augusto Mourão (1947-2011)
Soube agora mesmo que José Augusto Mourão, meu colega de departamento na Universidade Nova de Lisboa, faleceu hoje. Para além do seu trabalho académico nos domínios da semiótica, hipertextualidade e cultura, era frade da Ordem dos Pregadores ou Dominicanos, que como ele escreveu “têm como lema a procura da verdade, o amor ao estudo e ao estar-se com”. Era também presidente do Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) sediado no Convento de São Domingos. Recordo um homem de uma humilde convicção, em escuta permanente, sempre inquieto, à procura, tentando evitar as armadilhas e a arrogância do nosso discurso sobre o mundo e sobre os outros.
Deixo um poema seu em duas partes, “Protestatio et Confessio”, para estarmos mais uma vez com ele:
I
Renuncio à verdade solitária ou particular
renuncio à fé sem amor, que é o puro subjectivismocreio na dimensão militante de toda a verdade
creio no amor como fidelidade ao puro dom da graçarenuncio à esperança judiciária, distributiva,
que dá a uns a recompensa e a outros o infernocreio em Deus, força da vida e madrugada de todas as coisas
creio na reconciliação no amor como poder universalrenuncio a uma fé salarial e à visão sacrificial
que justifica a fome, a morte, a vítimarenuncio à vida do desejo como autonomia, que é o pecado
renuncio a um coração que seja em nós um rio que não correcreio na ressurreição subtraída ao poder da morte
creio na liberdade do Espírito desampara os que só na letra se arrimamrenuncio ao fel das relações envenenadas
a sedução do dinheiro que compra a vida e a famacreio na Páscoa do mundo que a Sarça transfigura
creio no trabalho do amor que borda a paz e a justiçaII
à banalização do mal eu digo não
à tecnologia das próteses e ao mercado
que conforta em nós Narciso, digo nãodigo não à xenografia da catástrofe mole,
à vociferação que matou Abel
e à justificação da violência como leiao discurso peremptório digo não também
e à satanização do outro
que nos defende de nós própriosdigo não à maneira do ser humano
regido pelo “valor” de troca
e pelo imanentismo que leva ao caos pluralistacreio no universo libertado,
em expansão, e não feito apenas de acaso e de necessidadecreio no homem em devir
que vem do desejo e da Vida absoluta de Deus
e não do determinismo biológicocreio em Deus como a festa maior que há-de vir
e das encruzilhadas em que os pedintes nos surpreendemcreio no Deus das noites sem apelo
do silêncio insepulto
e das claras madrugadascreio no Pai que no dom do Filho se retira
creio em Jesus Cristo, o Verbo feito carne
e voz de sangue inconsporcadocreio no dom que ele foi até ao fim
e a todos alcançoucreio na Páscoa do Espírito e do Fogo
creio no Espírito da diferença irredutível,
no intenso e no profundo que nos liga
ao espaço-tempo da presença-amante